Israel liberta homônimo de líder do Hezbollah

Hassan Nasrallah caiu por poucos dias nas mãos de Israel, junto com três familiares e um vizinho. Infelizmente, para Israel, o Nasrallah era dono de mercearia – e não o líder do grupo guerrilheiro libanês Hezbollah. Na madrugada de 2 de agosto, comandos israelenses invadiram sua casa no Vale do Bekaa, bastião do Hezbollah, e o levaram para Israel numa ousada operação. Ele ficou detido e foi interrogado por três semanas em Israel. Aparentemente, o Estado judeu acreditava que ele era parente do xeque Hassan Nasrallah, e poderia ser usado para pressionar o líder guerrilheiro.

"Eu insisti que eu era apenas uma pessoa comum que tem uma mercearia e uma loja que vende munição para rifles de caça. Eu não pertenço a nenhum grupo", relatou hoje Nasrallah, um dia depois de ter retornado para o Líbano. "Não lamento ter este nome, particularmente depois que o xeque Nasrallah conquistou uma vitória para o país e para a nação islâmica", disse ele numa entrevista na casa de um parente na cidade de Baalbek.

Pelo menos 15 libaneses foram mortos na ação dos comandos israelenses que resultou na captura do Nasrallah errado. Os israelenses invadiram também um hospital construído pelo Irã no Vale do Bekaa. Israel argumenta que o prédio era usado como base pelo Hezbollah e garante ter capturado cinco guerrilheiros e matado outros 10 em toda a ação. Nasrallah, de pouco mais de 60 anos, relatou sua captura junto com seus dois filhos, Bilal, de 30, e Mohammed, de 13, este último libertado antes de o grupo de prisioneiros chegar a Israel.

Comandos israelenses vieram de diferentes direções em quatro veículos 4X4. Eles pegaram o pai e os dois filhos na casa de um vizinho e forçaram todos a caminhar por duas horas até uma colina no leste onde pousaria um helicóptero israelense que os transportaria para Israel, contou Nasrallah. "Estávamos com as mãos amarradas, e tivemos que andar longas distâncias no meio de uma região selvagem. Então eles deixavam a gente descansar um pouco e depois voltávamos a caminhar", continuou. Quando os israelenses libertaram Mohammed, o pai disse que ficou "preocupado por causa dos animais selvagens, apesar de ele conhecer a área".

Em Israel, os homens tiveram os olhos vendados e foram interrogados do amanhecer ao anoitecer por dias. "Ele perguntavam ‘como pode você ser xiita e não ser do Hezbollah?’" relembrou Nasrallah. "Eu respondi: ‘nem todos os xiitas são do Hezbollah. Existem outros grupos, como o Amal e os independentes como nós’". "Meu filho Bilal foi acusado de ser filho do líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah".

O merceeiro explicou que a advogada israelense Leah Tzemel, que conseguiu a libertação do grupo ontem, "nos ajudou e nos disse que a guerra havia acabado dois dias antes". Numa apelação à Suprema Corte de Israel, Tzemel argumentou que os Nasrallah estavam sendo mantidos "como reféns para serem usados como moeda de barganha em negociações".

Na tarde de segunda a Suprema Corte deu ganho de causa Lara Tzemel, e os Nasrallah e outros três libaneses detidos na operação foram deixados na fronteira com o Líbano e voltaram para casa. Nasrallah, o xeque, havia ridicularizado a operação israelense no auge dos combates na tevê do Hezbollah. "Uma grandiosa operação de comandos termina pegando um honrado chefe de família cujo único pecado é ter o nome de Hassan Nasrallah", afirmou o xeque. "Identidade errada", foi como ele definiu o caso.

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