O júri popular, por 5 votos a 2, condenou a 30 anos de prisão o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, como mandante do assassinato da missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang. Ele foi considerado culpado por homicídio duplamente qualificado com agravante de a vítima ser idosa de 73 anos. Bida terá direito a um segundo julgamento, pelo fato de sua pena ter sido superior à 20 anos, de acordo com a legislação penal. "Falta agora condenar o Taradão (Regivaldo Pereira Galvão, o outro denunciado como mandante do crime), mas a Justiça está demorando muito para fazê-lo sentar no banco dos réus", disse o irmão da missionária, David Stang. O outro irmão da missionária, Thomas Stang, declarou que estava "muito feliz" com a decisão do júri.
O próximo a ser julgado é o fazendeiro Regivaldo Galvão, o Taradão, que está em liberdade, beneficiado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto aguarda o julgamento de um recurso em que pede sua exclusão do processo. Os advogados de Galvão alegam que ele foi arrolado no processo por vingança de Tato, com quem teria divergências. Familiares de Dorothy Stang e ativistas de direitos humanos temem que Galvão fuja do Brasil caso seja mantida a decisão da justiça paraense de mandá-lo para o banco dos réus.
Para o promotor Edson Cardoso e o assistente de acusação Aton Fon Filho, os jurados entenderam que havia provas de sobra para condenar Bida por homicídio duplamente qualificado, com promessa de recompensa, motivo torpe e uso de meios que impossibilitaram a defesa da vítima. Segundo Cardoso, a freira era tida como uma ameaça para os fazendeiros, em virtude das atividades sociais que exercia, principalmente na região da Transamazônica.
A acusação também explorou as contradições dos réus já condenados no processo, Rayfran Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Batista, o Eduardo, além de Amair Feijoli, o Tato, que negaram, durante os depoimentos prestados em plenário, na véspera, a existência de um consórcio para financiar a morte da freira, bem como a promessa de pagamento de R$ 50 mil pela execução do crime. "Houve uma orquestração para que os depoimentos fossem modificados, inocentando Bida de qualquer acusação relativa ao crime, mas os jurados não caíram na armadilha da defesa", acrescentou o assistente da acusação, José Batista.
O advogado Américo Leal, defensor de Bida, foi contundente na parte final do julgamento. Ele passou mais de uma hora acusando a vítima de ser uma mulher "perigosa e vingativa", que incitava famílias a invadir terras e mandar matar quem cruzasse seu caminho. "Agora, que morreu, ela virou santa, mas não era nada disso", disparou Leal. Os ataques dele foram respondidos com vaias pelos agricultores que acompanhavam o julgamento em caixas de som colocadas na calçada em frente ao Fórum Cível. "Minha irmã foi morta pela segunda vez, agora por esse advogado", comentou David Stang.