As más notícias em torno do Iraque são tantas, e tão freqüentes, que pouca gente deve se lembrar que o país árabe já foi um dos parceiros comerciais mais importantes do Brasil. De 1981 até novembro de 2003, o Brasil exportou US$ 3,6 bilhões. Trata-se de um número considerável, especialmente se observarmos que o País importou de lá US$ 3,3 bilhões (entre 1986 e novembro de 2003), notadamente de petróleo bruto, comodity hoje em vias de ser integralmente substituída pela exploração interna brasileira.
O histórico das exportações revela que a pauta brasileira sempre se destacou pela variedade. A lista de produtos vendidos ao mercado iraquiano cobria desde o açúcar, carne de frango e leite integral em pó até bens de maior valor agregado como peças para veículos, máquinas, equipamentos, papel, material escolar e de construção, além de serviços. Foi notória também a participação brasileira na construção de obras básicas e complexas no Iraque, prova de que a excelência da engenharia brasileira pode alcançar os lugares mais distantes. Dessa forma, o Brasil garantiu para si o status de referência para os empresários iraquianos, nos últimos anos impedidos de continuarem normalmente as relações comerciais com o mundo.
Foi justamente esse histórico de relacionamento que levou um grupo de empresários iraquianos refugiados e radicados no Brasil, há mais de 15 anos, a criarem a Câmara de Comércio e Indústria Brasil Iraque (www.brasiliraq.com.br <http://www.brasiliraq.com.br>) . A organização não tem fins lucrativos e já está trabalhando para reacender as relações comerciais entre os dois países. No entanto, muito se tem dito com relação ao projeto de reconstrução do Iraque, capitaneado pelos EUA, que excluiria os países que se opuseram à invasão. Um esclarecimento se faz necessário: tais exigências dizem respeito aos projetos de concorrência para reconstrução da infra-estrutura, o que não impede que as empresas brasileiras exportem para a iniciativa privada.
A Câmara fez um levantamento junto a 100 empresários e 35 grupos importadores. Nessa sondagem, constatou que apenas as exportações brasileira ditas “periféricas” podem chegar a US$1,2 bilhão por ano. Isso durante os primeiros cinco anos de reconstrução do Iraque. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na visita que fez aos países árabes, afirmou que o Brasil quer valorizar a afinidade comercial e cultural com o Oriente. No caso do Iraque não será difícil porque o país esteve distante apenas por causa dos conflitos políticos dos últimos anos, que forçaram o produto brasileiro a entrar no mercado iraquiano por outras vias do oriente, o que evidentemente resultou em sobrecarga de custos.
O retorno do Iraque ao palco do comércio internacional é uma realidade irreversível. Devido aos elevados custos políticos da ocupação do país, é preciso também levar em conta o seu papel e presença estratégica relevante no Oriente, o que justifica a prioridade internacional em reconstruí-lo, abrindo dessa forma grandes oportunidades comerciais. Essa investida de duas mãos torna-se fundamental para a pretensão dos dois países no cenário internacional. Trata-se, sem dúvida, de um excelente recomeço.
Jalal Jamel D. Chaya é presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil Iraque.
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