O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, inaugurou formalmente hoje a usina de água pesada de Arak, abrindo nova etapa do programa nuclear iraniano. Ahmadinejad declarou que o Irã não desistirá do direito de possuir tecnologia nuclear, apesar do temor do Ocidente de que possa produzir bombas atômicas. A inauguração foi interpretada por diplomatas ocidentais como um gesto desafiador, já que ocorreu a poucos dias do vencimento, quinta-feira, do prazo fixado pelo Conselho de Segurança da ONU para que o Irã pare com o enriquecimento de urânio – a principal preocupação do Ocidente em relação ao programa nuclear iraniano -, caso contrário poderá sofrer sanções.
"Ninguém pode privar uma nação de seus direitos", disse Ahmadinejad, em Arak. A água pesada será usada para resfriamento de um reator a ser instalado no local. O equipamento será capaz de criar um subproduto do plutônio, que poderia ser usado para a fabricação de armas nucleares.
As nações ocidentais acusam o Irã de buscar a tecnologia para produzir armas nucleares. O Irã, quarto maior exportador mundial de petróleo, insiste que só quer produzir eletricidade. Ahmadinejad declarou que o programa nuclear iraniano não representa ameaça a nenhum país, nem mesmo a Israel, "que definitivamente é um inimigo". Mas o deputado israelense Ephraim Sneh disse, em Jerusalém, que Israel deve "preparar-se militarmente".
Apesar da possibilidade de o Irã enfrentar sanções se não atender à exigência da ONU, a divisão entre as potências mundiais sobre como lidar com a república islâmica pode adiar qualquer ação. Segundo o jornal "Los Angeles Times", o governo americano indicou que está pronto para formar uma coalizão independente para congelar os bens iranianos no exterior e restringir o comércio se necessário. Para analistas, sanções impostas por apenas alguns países teriam impacto limitado.
O Irã deve aumentar os temores no Ocidente ao levar adiante com seu projeto em Arak, localizada a 190 quilômetros a sudoeste da capital, Teerã. Um funcionário iraniano disse que o projeto não representa risco de proliferação nuclear, pois a água pesada não tem uso militar. Mas diplomatas disseram que este não é um passo construtivo. "O projeto em si pode não representar risco de proliferação, mas as operações associadas – ainda não iniciadas -, sim. E o momento parece particularmente infeliz", disse um diplomata em Viena que acompanha as operações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no Irã.
A resolução do CS da ONU que determinou o prazo para o fim do enriquecimento de urânio também cita um pedido da AIEA para que o Irã reconsidere a construção de seu reator de água pesada. Seis potências mundiais – EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França, China e Rússia – ofereceram incentivos ao Irã para que ele pare de enriquecer urânio. Mas o Irã indicou que somente poderia considerar essa medida como resultado de conversações, não como uma precondição. China e Rússia, ambos parceiros comerciais do Irã, poderiam vetar as sanções no Conselho de Segurança.