Os fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) recebidos pelo Brasil de empresas de países emergentes e não desenvolvidos cresceu 838% nos últimos sete anos, saltando de US$ 229 milhões, em 2000, para US$ 2,149 bilhões, em 2006. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, em entrevista à Agência Estado, o aumento de IED destes países é uma tendência mundial e corresponde à contrapartida do déficit em conta corrente registrado pelos Estados Unidos nos últimos anos.
"O déficit registrado pelos Estados Unidos e o superávit dos emergentes estão proporcionando uma sobra de recursos para investir no exterior. Isso é o que está acontecendo com o Brasil. Os países estão com sobras de recursos e passam a olhar oportunidades de investimentos em outros lugares do mundo", explica Lima.
O porcentual de IED dos emergentes no total recebido pelo Brasil cresceu de 0,9% em 2000 para 9,7% em 2006, sendo que em 2005 registrou o pico de 11,5%. "Os investimentos de países emergentes e não desenvolvidos, que há poucos anos sequer constavam nas estatísticas de IED do Banco Central, passam a ter relevância crescente no total recebido pelo País", ressalta, destacando que eles estão concentrados em commodities, principalmente extração de petróleo, agricultura e pecuária, além do setor automotivo.
Ele acentua que essa tendência proporciona ao Brasil reduzir sua dependência dos países desenvolvidos, assim como complementa os investimentos que entram no País. "Não por acaso a trajetória do investimento direto estrangeiro bruto recebido pelo Brasil aponta para o rompimento do recorde histórico em 2007", diz, acrescentado que esse tipo de investimento deve fechar o ano em US$ 42,147 bilhões, montante superior aos US$ 40,599 bilhões registrados em 1999, durante o auge das privatizações."Se levarmos em conta que não há ativos sendo privatizados no momento, o atual ingresso bruto de investimentos pode ser considerado excepcional.
Em 2006, 86% do total de IED de emergentes e não desenvolvidos vieram do México, da Colômbia, do Uruguai, da Costa Rica, da Argentina e do Chile, enquanto que 19% foram provenientes de economias asiáticas, como Coréia do Sul, Hong Kong e Cingapura, além da Austrália, na Oceania. De acordo com a Sobeet, estes investimentos estão concentrados num número cada vez maior de países, com investimentos inferiores a US$ 250 milhões ao ano, com exceção do Chile e do México, cujas participações atingiram 20% e 7,4%, respectivamente, no primeiro trimestre deste ano.
O boletim da Sobeet destaca também que a participação dos países emergentes e não desenvolvidos nos fluxos de IED global passou de 5,9% em 1990 para 20,5%, segundo o último dado disponível da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). "Há um forte crescimento mundial do fluxo de investimentos em países vizinhos, principalmente na Ásia", argumenta.
Lima salienta ainda que ao mesmo tempo que o Brasil vem recebendo investimentos externos, o País também está enviando recursos. Em 2006, o investimento brasileiro direto no exterior, de US$ 28,2 bilhões, superou pela primeira vez o IED no País, que fechou em US$ 18,8 bilhões. "Trata-se apenas de uma tendência já observada globalmente.