Vulgaridade e a incontinência verbal, nos últimos tempos, têm transformado alguns seres humanos em retratos desfocados de si mesmos. Num mundo marcado pelo triunfo absoluto do progresso científico, por outro lado, é chocante verificar a indigência atingida pelo relacionamento entre as pessoas.
O precaríssimo estado de saúde de Ariel Sharon, entre a vida e a morte e já afastado da função de primeiro-ministro de Israel, é evidência alarmante de que a intolerância deturpou o relacionamento humano, fazendo-o descambar aos níveis observados na época das cavernas.
Pat Robertson, popular evangelista norte-americano, líder da direita religiosa e conselheiro do presidente George W. Bush, declarou em seu programa televisivo que o derrame cerebral de Sharon poderá ter sido castigo divino, pelo fato de sua tentativa de ?dividir a terra sagrada de Israel?. Deus, trombeteou o pregador, é ?inimigo? de todos quantos pretendem dividir a terra que lhe pertence!
Nesse aspecto, Robertson não difere do atual presidente do Irã, que outro dia classificou como mito o Holocausto, propondo que Israel fosse riscado do mapa. Agora, o fanático líder político e religioso afiança ?estar torcendo? pela morte de Ariel Sharon.
Atitudes repulsivas como essas dão-nos a exata medida, como dizia o grande teólogo Karl Barth, do drama de consciência que abalaria a humanidade dominada pelo protagonismo do sujeito devastado pela alienação.
Por sua vez, o moralista católico francês Emmanuel Mounier lembrava que ?a pátria que para se edificar tem de esmagar os homens por meio de métodos de escravidão não é pátria, é um monstro?, doutrinando que ?o heroísmo que nasce da alucinação e do feitiço só poderá conduzir ao delírio?.
Palavras bem aplicadas aos senhores Robertson e Mahmoud.
