Interior de São Paulo faz primeira cirurgia de cérebro com paciente acordado

Nas quase quatro horas de cirurgia para retirada de um tumor do cérebro, Jucelda Monteiro dos Santos, de 27 anos, permaneceu acordada, leu textos em voz alta, conversou e orientou os médicos. Ela submeteu-se à primeira neurocirurgia para extração de tumor cerebral com paciente acordado no interior de São Paulo. Feita em setembro no Hospital Estadual de Sumaré, administrado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a intervenção foi divulgada hoje.

Os médicos esperaram dois meses para ter certeza do sucesso da cirurgia, de alta complexidade. Segundo o neurocirurgião Marcos Vinícius Calfat Maldaun, Jucelda está curada e há poucos riscos de reaparecimento do tumor. Ele informou que a técnica reduz significativamente seqüelas como perda da capacidade de falar e de movimento nos membros.

Seqüelas

Maldaun lembra que as áreas encarregadas do controle da fala e a capacidade motora variam de indivíduo para indivíduo e o tumor também pode contribuir para alterar a localização. Nas cirurgias convencionais, quando o paciente é anestesiado, pode haver lesões nessas áreas. Acordado, o paciente orienta os médicos, que estimulam o cérebro para mapeá-las. E a anestesia é local.

O tumor é localizado por meio de ultra-som e a partir dos testes de fala e motores os médicos promovem a remoção do tumor com segurança, sem afetar essas áreas e provocar seqüelas. Com a técnica, o paciente tem alta dois dias após a operação. Na cirurgia convencional, a alta demora entre sete e dez dias, conforme o neurocirurgião.

Mas em casos em que o tumor é muito grande ou atingiu áreas responsáveis pela fala e por atividades motoras essa técnica não é recomendada. Jucelda tinha um tumor do tamanho de uma noz e estava em fase inicial.

Tranqüilo

Antes de ser submetido à técnica, o paciente passa por uma série de exames, como testes de memória e neuropsicológicos. "O paciente precisa ser tranqüilo para enfrentar a cirurgia e tem de saber ler", comentou Maldaun. Também são necessários equipamentos específicos, como o ultra-som intra-operatório e o neuroestimulador cerebral. De acordo com Maldaun, o Hospital Estadual de Sumaré está equipado e deverá fazer de uma a duas neurocirurgias com paciente acordado por mês, suficientes para a demanda da região.

O custo da cirurgia foi estimado pelo neurocirurgião em R$ 100 mil. No Estado, apenas o Hospital das Clínicas de São Paulo e agora o Hospital Estadual de Sumaré fazem a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O médico disse que o câncer cerebral é uma patologia rara, que atinge uma em cada 100 mil pessoas.

Convulsão

Recepcionista de uma clínica médica, Jucelda teve uma crise convulsiva durante suas férias, em agosto do ano passado. Exames apontaram o tumor. Ela passou pelos testes antes de ser submetida à cirurgia. Disse que foi muito bem preparada pelos médicos, que explicaram o procedimento várias vezes. "Foi tranqüilo. Estou mais nervosa hoje, de ter de falar com a imprensa", brincou.

Jucelda lembrou que ficou preocupada quando descobriu o tumor, mas se sentiu segura quando os médicos explicaram a operação. "Acabou a agonia. Eu me preparei, pensei que daria tudo certo e que dependeria de mim ajudar os médicos. Se não, nada ia funcionar. Fui para a cirurgia com a cabeça fria." O pós-operatório ocorreu sem problemas, afirmou.

"Foi tudo rápido. Alguns vizinhos nem ficaram sabendo da operação", disse a recepcionista. Superado o problema, ela pretende retomar o curso de radioterapia, interrompido quando descobriu o tumor, e os planos de casamento. "Preciso casar", avisou. Jucelda foi operada por uma equipe de oito especialistas.

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