Afinal de contas, Lula interfere ou não no Congresso Nacional, para obter as decisões que julga da conveniência do governo, do País, do seu partido e aliados ou dele próprio? Os fatos dizem que sim, mas ele jura que não. A questão não é de somenos. A interferência viola a harmonia e independência entre os poderes. Fragiliza a democracia.
Sempre que no Congresso foram votadas matérias de interesse do País, mas divergiam situação e oposição, houve a acusação de compra de votos pelo governo. Compra com liberações de verbas para serem manipuladas pelos parlamentares em seus redutos eleitorais. Os aderentes ao situacionismo e beneficiários dessas liberações sempre as usam em suas paróquias, agradando cabos eleitorais, prefeitos e grupos reduzidos de eleitores. É uma forma de conquistar votos fazendo cortesia com o chapéu alheio, no caso, o dinheiro do povo. Sempre ocorreram casos em que tal prática levou a maracutaias, muito difíceis de serem comprovadas. Na aplicação dos recursos, muitos políticos exigem a sua ilegal e vergonhosa comissão. Seu mensalinho.
Quando a matéria é do interesse do País, a interferência do Executivo se faz como exercício de convencimento. Aí, nada a reclamar. Mas tais casos têm sido raros, pois sempre que há decisões claramente de interesse da nação a oposição tem votado favoravelmente.
As interferências em favor do partido do presidente e de seus aliados são legítimas, na medida em que surjam como meros embates políticos, sem extrapolações que signifiquem ingerência de um poder em outro. É, entretanto, um terreno perigoso em que sempre se tangencia a ilegalidade e a inconstitucionalidade.
Mas há de se distinguir dois tipos de interferência. Um é o Executivo lutando pelo convencimento de seus opositores. Outro é comprando-os com verbas públicas ou privadas, forma como se acusa foram feitas as alianças situacionistas e obtida a precária maioria do governo Lula. É dinheiro que se transforma em sustentação de campanhas eleitorais, numerários para o funcionamento dos partidos situacionistas, inclusive e principalmente o PT, e ainda enriquecimento pessoal dos que se vendem ao Executivo.
Estas as razões básicas da crise política e ética e das CPIs instaladas no Congresso.
Destas, a CPMI dos Correios é a mais abrangente. Somou denúncias para averiguar e irregularidades para investigar. A que mais mexe com o governo Lula. Para que sejam pesquisados todos os casos a fundo e punidos os culpados, sejam quem forem, como Lula declara desejar, muito trabalho resta nessa CPMI. Mas seu prazo estava expirando. Foi pedida sua prorrogação até abril do ano que vem, já época de campanha eleitoral. Os governistas trabalharam escancaradamente para acabar com as investigações já, sem conclusões. Os oposicionistas, pela prorrogação. O governo cooptou, com verbas públicas, vários parlamentares da oposição, mas os vendilhões do templo não foram suficientes. A oposição ganhou por um voto e a CPMI foi prorrogada.
Lula foi acusado de ter interferido em pessoa e amargado uma derrota. Teria usado de verbas públicas para atrair votos contra a prorrogação. Ele nega. A acreditar na negativa, temos de chancelar todas as declarações pretéritas do presidente, de que não tem conhecimento dos fatos ilegais e irregulares que aconteceram e acontecem ao seu redor. Isso porque, de fato, a turma do governo interferiu escancaradamente no Poder Legislativo. E perdeu.