O governador Roberto Requião é um dos últimos quadros da política brasileira a pautar sua conduta pública pelos padrões do nacionalismo exacerbado. A prova mais recente é sua luta contra a liberação do plantio e comercialização de produtos geneticamente modificados, os chamados transgênicos, agora liberados no Brasil com a aprovação da Lei de Biossegurança.

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Clama o governador uma providência enérgica do governo central, no sentido de frear esse ataque da hegemonia econômica multinacional sobre a agricultura brasileira, vez que as sementes da soja transgênica plantada no Brasil, a Roundup Ready (RR), têm a patente de propriedade registrada em nome da Monsanto.

Essa é também a indústria agroquímica que detém a fórmula do glifosato, inseticida recomendado para a eliminação das pragas da lavoura de soja, sendo que a RR a ele resiste galhardamente. Para obter a semente e o inseticida, o agricultor passa a depender da multinacional e do pagamento de royalties a cada safra.

O último lance de Requião foi a carta enviada ao presidente da República, com candente apelo ao veto dos artigos referentes ao plantio e comercialização de produtos transgênicos em território nacional. É também desejo do governador transformar o Paraná em área livre de transgênicos, mesmo sabendo que a pretensão entraria em conflito com a legislação federal, até então inexistente, mas já delineada.

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Durante os debates sobre a transgenia, quando a posição do governo paranaense foi colocada, algumas delas em termos práticos, como a proibição do tráfego de soja transgênica no Paraná e da exportação pelo Porto de Paranaguá, muitos advertiram para a iminência da aprovação da lei de abrangência nacional, cujo ordenamento o Estado seria obrigado a acatar.

A grande imprensa batizou a ação intimorata do governador de ?efeito Requião?, tentando antecipar os principais desdobramentos do impasse. A produção de soja transgênica não será transportada por estradas paranaenses nem sairá por Paranaguá, que é um porto federal concedido à administração estadual?

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Não bastasse a cruel estiagem e o comprometimento de grandes extensões dos cultivos de verão, a agricultura vive ainda o dilema do choque de interesses difusos, cuja perspectiva é prolongada.