As primeiras fissuras no apoio doméstico quase unânime à guerra de Israel no Líbano surgiram hoje, com destacados intelectuais e políticos discordando da decisão do governo de enviar mais tropas para o território do Hezbollah.

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Todas as sextas-feiras ao longo do último mês, ativistas antiguerra têm realizado manifestações contra a maciça retaliação israelense à ação do Hezbollah de 12 de julho, cruzando a fronteira e seqüestrando dois soldados de Israel, mas eles nunca conseguiram reunir mais do que um punhado de pessoas.

Pesquisas de opinião mostravam um apoio à guerra por volta dos 80%, e foi aos céus a popularidade do primeiro-ministro Ehud Olmert – recém-eleito e ainda não testado em crises. Alguns pacifistas que permaneceram calados ou mesmo apoiaram a luta estão agora dizendo que a violência já foi longe o bastante.

Três dos mais respeitados autores e intelectuais – Amos Oz, David Grossman e A.B. Yehoshua – pediram conjuntamente hoje a Olmert para se concentrar mais na diplomacia do que em ações militares. "Estamos numa encruzilhada entre a luz verde dada para a continuidade das operações militares e a exploração de uma solução política", disse Yehoshua.

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A reviravolta da esquerda ocorreu depois que o Gabinete de Segurança de Olmert votou por ampla maioria ontem pela expansão da ofensiva terrestre a fim de expulsar os combatentes do Hezbollah para além do rio Litani, a 30 quilômetros da fronteira israelense

A decisão foi tomada dois dias depois que o primeiro-ministro do Líbano, Fuad Saniora, com a aprovação do Hezbollah, ofereceu colocar o Exército libanês numa zona tampão ao longo da fronteira de Israel, reforçado por soldados de paz internacionais posicionados entre o Hezbollah e o Estado judeu.

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Olmert considerou "interessante" o plano de sete pontos de Saniora e sua ministra do Exterior, Tzipi Livni, disse que ele era "um passo na direção correta". Mas o governo não deu uma resposta formal ao plano e, posteriormente, autorizou a nova ofensiva militar. Israel postergou o começo da expansão das ações a fim de dar mais alguns dias para diplomatas trabalharem num cessar-fogo.

"Israel agiu corretamente quando decidiu responder com força à provocação violenta do Hezbollah", opinou Oz, um ícone da esquerda israelense. Oz classificou o Hezbollah como um ramo radical do Islã que celebraria a aniquilação de Israel, e sua derrota seria um triunfo para os moderados do Oriente Médio. Mas o plano libanês "não era apenas uma reviravolta na situação, ele era uma vitória da exigência básica de Israel", acrescentou Oz. Israel deveria ter dito a Saniora que seu plano era uma boa base para negociações e suspendido a ofensiva

"Se eles tivessem oferecido isso para nós um mês atrás, teríamos pego imediatamente", avaliou Grossman. A continuidade da guerra de guerrilha põe em risco os ganhos já alcançados por Israel e poderia causar o colapso do governo libanês, com o Hezbollah emergindo do caos político como o poder predominante do Líbano, advertiu Grossman.

Cerca de 600 pessoas participaram de uma manifestação hoje em Tel-Aviv. Apesar de pequena se comparada aos protestos de dezenas de milhares na invasão israelense do Líbano de 1982, ela marca o início do renascimento do movimento pacifista de Israel, que concordou com a decisão de ir à guerra no mês passado.

Aos 30 dias de guerra, o conflito no Líbano é a mais longa guerra já travada por Israel desde sua independência em 1948. Com mais de 100 militares e civis mortos, a semente da discórdia está crescendo com a incapacidade do Exército de desalojar o Hezbollah do sul do Líbano e parar a chuva de foguetes no norte de Israel.