O governo não dispõe de armas eficazes para combater a inflação. A queda dos índices dependem de fatores que escapam às medidas governamentais disponíveis. Existem possibilidades de que o fenômeno da alta de preços acima do previsto se estenda ainda por algum tempo, embora a entidade nacional de supermercadistas veja uma tendência de acomodação e preveja uma queda durante a transição do governo FHC para Lula. A atual inflação é, antes de mais nada, resultado da alta do dólar. E aí funcionaram como combustíveis a desconfiança do mercado na eleição e transição; o vencimento, em grande parte antecipado, de dívidas governamentais e privadas em dólares, aumentando a procura pela moeda norte-americana; a redução dos fluxos de dólares para o Brasil por desconfianças sobre o futuro político-econômico do Brasil, e a crise econômica internacional.

O recuo do dólar, que já se dá e espera-se seja consistente e persistente, parece ser o único remédio. E ele independe do governo. Este tem um só instrumento para conter a inflação: a manipulação das taxas de juros, elevando-as para evitar que as altas de preços se dêem por desequilíbrio entre a oferta e a procura. Isto o governo já fez, aumentando as taxas de juros básicos, que vinham caindo muito lentamente e ainda se mantinham altíssimas, para 22% ao mês, talvez a mais alta do mundo.

Acontece que, desta vez, o surto inflacionário não se deve a nenhum desequilíbrio entre a oferta e a procura. Assim sendo, de nada adianta aumentar as taxas de juros, embora uma queda provocaria aumento da inflação. Por isso, governo FHC e futuro governo Lula estão concordando em manter as taxas de juros altas durante ainda algum tempo. Outra arma que o governo poderia dispor e que já foi usada no passado, com destaque na administração desastrosa do defenestrado Fernando Collor, é a importação, obrigando a indústria nacional a competir tanto em qualidade, como em preços. Em qualidade, ela já compete. Quanto a competir em preços, isso se torna impossível, pois com o dólar acima de R$ 3,50 as importações se inviabilizam. Os produtos importados se tornaram muito caros. De outro lado, é desejo do atual e do futuro governo e necessidade nacional melhorar a balança comercial, o que, aliás, já se conseguiu neste ano, quando o superávit deverá chegar a uns 11 bilhões de dólares. Um recorde conseguido em razão da redução das importações, o que se deveu ao baixo índice de desenvolvimento econômico que o País vem experimentando.

Se o governo nada pode fazer, o consumidor pode um pouco. Ele e o comércio varejista, que aliás já vem se movimentando, boicotando fornecedores que elevam desarrazoadamente seus preços. Vale a busca de produtos similares mais baratos e é isso o que tem sido feito por alguns supermercados. O consumidor deve regatear, procurar o mais barato, conter-se diante dos produtos que estão muito caros, mesmo que isso leve à redução do consumo. A substituição do mais caro pelo mais barato, ou menos caro, se impõe, pois é preciso mostrar ao mercado que não estamos dispostos a pagar o preço da especulação. Apesar de reconhecer-se na elevação do dólar a maior causa da inflação, nessas horas não faltam os especuladores que, na onda das altas justificadas, remarcam abusivamente preços que poderiam continuar comportados.

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