Rio – Os preços para o consumidor idoso subiram 5,05% em 2005, abaixo da inflação registrada pela terceira idade em 2004 (6,58%). Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o menor nível de preços desde 1998, influenciado principalmente pela queda nos preços dos alimentos. Porém, o cenário da inflação entre os brasileiros idosos não mostrou apenas sinais positivos. Levantamento da FGV mostrou que, desde o Plano Real, os idosos sofrem mais com a inflação do que o consumidor médio, em razão do grande impacto que reajustes em preços administrados têm no orçamento dos consumidores acima de 60 anos.
Hoje (6), a FGV anunciou o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i) do quarto trimestre de 2005, bem como a taxa acumulada do ano passado. No último trimestre, o indicador subiu 1,54%, ante deflação de 0,19% no trimestre anterior. Segundo o economista da FGV, André Braz, a aceleração na taxa do indicador, no período, foi causada por um fator sazonal: a disparada nos preços de hortaliças e legumes (18,43%), segmento conhecido por elevações fortes, mas passageiras.
Embora os alimentos tenham sido o motivo da inflação mais alta nos últimos três meses de 2005, a queda de preços desses produtos, ao longo do ano passado, impediram impacto maior dos aumentos das tarifas e preços administrados na inflação da terceira idade. Segundo Braz, enquanto as cinco principais elevações de preços entre os consumidores acima de 60 anos, no ano passado, foram originadas de tarifas, as cinco mais expressivas quedas partiram do setor de alimentação. "O preço dos alimentos, ao longo de 2005, foi um dos motivos para que a taxa do IPC-3i não acelerasse tanto (ante 2004)", comentou Braz.
Para a dona de casa Leonor Oliveira Faustino, 78 anos, contudo, a inflação do idoso pode ter sido mais baixa que em anos anteriores, mas isso não foi percebido. Ela diz que alguns gastos estão subindo muito e cita o exemplo da conta de luz. "Você nem faz idéia da batalha", comenta Leonor, que mora com o marido doente, ao explicar o esforço para fazer as compras. O casal vive com a renda de aluguel e tenta economizar ao máximo para fazer frente aos gastos com saúde, alimentação e tarifas administradas.
A força do impacto dos reajustes em tarifas nas despesas dos idosos é visível quando um período mais longo é analisado. Segundo o economista, de 1994 até 2005, os preços medidos pelo IPC-3i foram, em média, 2% acima dos preços registrados pelo consumidor médio, medidos pelo IPC-Brasil. "A inflação foi mais rigorosa com os idosos. Os reajustes em preços administrados ficaram mais concentrados (de 1994 até 2005) e isso restringiu o orçamento da terceira idade", disse Braz. Ele lembrou que as despesas do consumidor idoso são mais relacionadas a preços controlados, principalmente os ligados ao setor de saúde – como os reajustes em planos de assistência médica, por exemplo.
Não por acaso, a mais importante elevação de preço em 2005, entre os consumidores idosos, partiu de plano e seguro-saúde, que encerraram o ano com alta de 11,72%. O aposentado Carlos Alberto Soares, 64 anos, explica que apenas a esposa tem plano de saúde em casa. Soares paga o plano para a mulher, mas não tem recursos para pagar um para ele. Ele chega a comentar que o resultado da inflação do idoso "é só estatística" já que sente no bolso a alta de preço de vários itens.
A renda mensal da aposentadoria, de R$ 1,1 mil, não é suficiente e a esposa faz salgadinhos para festas para complementar a receita da família. "Com o meu orçamento, esse resultado (da inflação) não bate", afirma. Ele explica que as taxas vêm subindo e que é difícil controlar os gastos com eletricidade nos dias de forte calor, quando é necessário ligar o ventilador e o ar condicionado, à noite, pelo menos, para conseguir dormir.