Inflação ganha força com preços agrícolas no atacado

A forte elevação nos preços dos produtos agropecuários no atacado (5,42%) foi a principal responsável pela aceleração na taxa do Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10), que subiu 1,02% em novembro, ante alta de 0,21% em outubro. A informação é do coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

Ele explicou que o setor agropecuário está sendo influenciado por dois fatores: período de entressafra em produtos agrícolas importantes, e movimento de elevação nos preços de commodities agrícolas, no mercado internacional. Entre os destaques, o economista citou as altas de preço de milho (14,21%); arroz (14 40%) e soja (11,30%). "No caso da soja, o produto foi responsável, sozinho, por um quarto da aceleração do IGP-10", afirmou o economista.

Este cenário puxou para cima os preços do atacado, medidos pelo IPA-10 – que representa 60% do total do IGP-10, e passou de 0 26% para 1,45% de outubro para novembro. "Pode-se dizer que 95% da aceleração do IGP-10 deve-se ao IPA-10. Todos os outros indicadores aceleraram (IPC-10 e INCC-10), mas a influência do IPA foi maior", disse o economista. "E cerca de dois terços da aceleração do IPA-10 foi devido às matérias-primas agropecuárias", complementou.

Combustíveis

A deflação mais fraca nos preços de combustíveis e lubrificantes no atacado (de -2,29% para -1,09%) também ajudou na aceleração da taxa do IGP-10. De acordo com Quadros, os preços dos combustíveis no atacado estão caindo menos, devido a dois motivos: influência do recente aumento na mistura do álcool na gasolina, de 20% para 23%; e aumento na cotação do barril de petróleo, no mercado internacional.

Quadros informou que a primeira razão influenciou as quedas de preço mais fracas em álcool etílico hidratado (de -3% para -2 2%) e gasolina (de -0,98% para -0,07%). Já o segundo motivo levou ao enfraquecimento das deflações nos preços de óleos combustíveis (de -8% para -5,90%) e querosene para motores (de -7,84% para -1,99%).

Esse cenário, entretanto, não chegou a influenciar os preços para o consumidor. De acordo com Quadros, no âmbito do IGP-10, os preços dos combustíveis estão intensificando processo de deflação no varejo. É o caso das quedas mais fortes nos preços de álcool (de -3,32% para -4,88%) e gasolina (de -0,37% para -0 55%). "Mas isso vai se inverter. O que ocorre nos preços do atacado vai chegar em algum momento nos combustíveis no varejo", disse.

Repasse ao varejo

O repasse da recente alta nos preços das matérias-primas agropecuárias no atacado já chegou com mais força no varejo. É o que mostra os resultados do IGP-10 de novembro, na avaliação do coordenador da FGV. De acordo com Quadros, entre as commodities agrícolas cujos preços estão disparando no atacado, alguns destaques de elevações no IGP-10 de novembro ficaram por conta de soja (11,30%); arroz (14,40%) e trigo (16,27%).

Segundo o economista, já é possível notar acelerações de preços para o consumidor em produtos que são derivados dessas matérias-primas. Na passagem do IGP-10 de outubro para o índice de novembro houve acelerações de preços em arroz branco (de 1 01% para 1,79%) e farinha de trigo (de -0,18% para 1,66%) – sendo que, no monitor diário de inflação que a FGV detém, que calcula as variações diárias dos preços pesquisados pela instituição, esses dois produtos registraram altas de 4,33% e de 3,16%, respectivamente, no dia 20 de novembro. O período de coleta de preços do IGP-10 de novembro foi até o dia 10 desse mês.

No caso da soja, há o comportamento do óleo de soja refinado, que intensificou queda de preços no varejo do IGP-10 de outubro para o de novembro (de -0,12% para -0,34%), mas já registra alta de 2,28% no dia 20 de novembro para o consumidor.

Para Quadros, porém, esse repasse não preocupa os cenários de inflação para médio e longo prazo. "Não acho que preocupa. Acho que isso tem a ver com fatores pontuais, como choques externos, entressafra e a alta da soja", afirmou. Mas admitiu que os preços dos alimentos no varejo até o fim do ano devem se posicionar em alta. "Vai ser um final de ano com pressão de preços para o consumidor", disse.

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