A inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) deverá recuar em dezembro para algo entre 0,35% e 0,40%, ante a variação de 0,75% em novembro, conforme divulgou nesta quarta-feira (29) a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A previsão foi feita pelo coordenador de análises econômicas da Fundação, Salomão Quadros. Com isso, diz ele, o índice deverá fechar o ano em curso abaixo de 4%, algo entre 3,80% e 3,90%.
De acordo com Quadros, neste mês o IGP-M foi pressionado pelo choque agrícola, mas os números mostram que as pressões neste segmento já estão arrefecendo. De acordo com o coordenador, um levantamento diário feito pela FGV confirma o arrefecimento das pressões de preços causadas pelo choque agrícola. Até o último dia 22, por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor tinha subido 1,60% e no dia 27 já havia desacelerado para 0,86%. Movimento semelhante foi registrado com os preços dos alimentos in natura e processados. Até o dia 22 de novembro, os in natura tinham subido 1,88% e os processados 0,88% e agora, até o dia 27 tinham subido 1,59% e 0,70%, respectivamente.
"Se considerarmos os processados excluindo carne bovina, a perda de força fica ainda mais clara", diz Quadros, acrescentando que no IPC, até 15 de novembro, os alimentos processados sem as carnes, tiveram uma alta 0,50%, praticamente do dobro do final de outubro, que foi de 0,24%. Até 27 de novembro, os processados sem as carnes subiram 0,50% ante 0,54% no acumulado até o dia 22 de novembro. Ou seja, o choque agrícola ainda terá impacto no IGP-M de dezembro, mas com menos força.
Soja
A trajetória de alta do preço da soja é a única preocupação do coordenador de análises econômicas da FGV. Ele afirma que o grão teve seu preço no atacado aumentado em 6,90% em outubro e fechou novembro com elevação de 11%, patamar muito elevado. Em contrapartida, os bovinos já mostram arrefecimento, destaca o coordenador da FGV. Fecharam em alta de 5,66% no mês passado e encerraram novembro com variação negativa de 2,64%.
Há outros produtos que também confirmam a trajetória do arrefecimento das pressões do choque agrícola, de acordo com Quadros. As aves, que subiram 7,31% no mês passado, caíram 10 17% em novembro. O trigo, que havia subido 10,42% em outubro, avançou menos em novembro, 8,51%. "O IGP-M não será um argumento para mudar o ritmo de redução do corte de juros", afirmou Quadros, acrescentando que o choque agrícola é limitado, circunscrito ao curto prazo e não vai deixar seqüelas. "Um exemplo disso são os bovinos (-2,64%), que tiveram a primeira queda desde o início da entressafra".
2007
O coordenador acredita que o IGP-M deverá desacelerar ao longo de 2007 para fechar o ano perto de 3%. "Não estou vendo pressão do câmbio e o comércio internacional está surpreendendo", diz. Ele cita como exemplo a importação de bens duráveis, calçados e vestuário para segurar preços.
No caso do vestuário, os preços acumulados em 12 apresentam variação zero. "Depois dos alimentos é vestuário que mais tem contribuído para desacelerar a inflação este ano", diz. A alimentação acumula no ano até novembro uma deflação de 0,45% para um IPC-M de 1,50% no mesmo período. "Se não fosse o choque agrícola, o IGP-M poderia fechar abaixo do patamar de 3,80% a 3 90%", diz o economista.
Quadros disse ainda que, pelos números atuais, não está havendo uma corrida no âmbito do IPC-M para repassar o choque agrícola. No macarrão, por exemplo, que fechou outubro com queda de 0,53%, em novembro subiu 0,04%. "Há uma pressão mais forte nos produtos intermediários que nos produtos finais", conclui.