A inflação recrudesceu. Voltou a inflação galopante? Parece que não. Esta anda a trote. É uma meia volta e por curto espaço de tempo. Inflação galopante, gigantesca, como tivemos até que o Plano Real a debelou, quando FHC era o ministro da Fazenda, esperamos que nunca mais. Em outubro, a Região Metropolitana de Curitiba teve um aumento da inflação de 1,69%, conforme o IPCA divulgado pelo IBGE. O índice nacional foi de l,31%, 0,59 ponto percentual acima do apurado em setembro. Foi a maior taxa desde julho de 2001, quando foi registrado 1,33%.
Tais números são ínfimos diante da inflação absurda que tivemos antes do Plano Real. Mas, mesmo assim, são indesejáveis e contrariam as projeções do governo, das empresas e as necessidades da população. Estamos às vésperas de um governo do PT e parece politicamente absurdo e moralmente inconcebível que numa administração voltada aos interesses das classes trabalhadoras e das camadas mais pobres da população tenhamos uma inflação crescente. Ela já está doendo no bolso dos consumidores. Este surto inflacionário deve-se, em princípio, às variações cambiais. Às altas do dólar frente ao real.
As causas deste indesejável fenômeno foram muito discutidas, sem haver consenso. Parece que mais de um motivo influíram. O dólar subiu porque estávamos às vésperas de eleições e tudo indicava que venceria o PT com Lula, aqueles que ameaçaram, no passado, uma moratória, ou seja, um calote geral contra os credores externos. A desconfiança interrompeu os fluxos de dólares para o Brasil, a renovação de contratos de empréstimos que estavam vencendo, a diminuição de investimentos internos e do exterior e o rebaixamento da avaliação do Brasil em termos de risco para os investidores. Também porque o Brasil deve demais e a oposição a FHC não se cansava de proclamar isso para todo o mundo, mesmo que a situação não fosse tão preta quanto era pintada.
Mas, o que tem a ver uma coisa com a outra? Vivemos no Brasil e nossa moeda é o real e não o dólar. A gente ganha em reais e não em dólares. E subiram nas prateleiras produtos fabricados no Brasil e não lá no exterior.
Ocorre que, na formação dos preços de produtos brasileiros, existem componentes cotados em dólares, ou porque são estrangeiros, ou porque obedecem a preços internacionais. Nossos combustíveis são em parte brasileiros e em parte importados. Nossos produtos são transportados e gastam combustíveis, que, se o dólar subir, pagarão fretes mais caros. Nossos remédios ou são totalmente importados, ou têm, em sua composição, ingredientes estrangeiros porque o Brasil não os produz. O pão, o macarrão, as bolachas e outros produtos levam farinha de trigo, em sua maior parte importada. Paga, portanto, em dólares. Assim, não há como evitar inflação se o dólar sobe. Outras causas podem ter influído, mas o problema cambial foi o principal motivo da elevação da inflação.
Mas o dólar já começa a recuar e a confiança no governo Lula vem se solidificando, na medida em que ele e sua equipe reafirmam que seguirão políticas que não contrariarão compromissos internacionais do Brasil. A Associação Brasileira de Supermercados já espera uma desaceleração na alta de preços e um recuo antes do fim do ano, como reflexo da queda do dólar, que esteve a R$ 4,00 e já está a cerca de R$ 3,50.