Infidelidade

Muitos sucumbem aos apelos da carne proibida e são infiéis. Com isso, traem, antes, a si próprios, porque traem seus sentimentos. Aí vem a culpa de quem, embora quisesse, conscientemente, trilhar um caminho, acabou conduzindo-se por outro. Ou não. Porque há os que aparentemente desfrutam de uma insustentável leveza, como diz Milan Kundera no seu romance A insustentável leveza do ser, e colocam o sexo no rol das diversões inconseqüentes, separado dos sentimentos.

Seriam esses os rebeldes a formarem a resistência contra a hipocrisia da fidelidade do amor romântico? Não sei. É verdade, também, que essa leveza soa como uma fuga para não fincar raízes. Um mecanismo de defesa emocional, onde se vivem muitos relacionamentos para não viver, de fato, nenhum.

Na natureza a regra é a infidelidade (apenas dois por cento das espécies são monogâmicas!). Os animais não têm pudor e, muito menos, culpa pelo prazer. O traço distintivo entre machos e fêmeas é o de que enquanto essas são seletivas, buscando os melhores genes para a preservação da espécie, aqueles são compulsivos. Os humanos, ao contrário, têm um comportamento híbrido, ora monogâmico ora poligâmico, o que torna difícil dizer onde acaba o instinto sexual e onde começa o comportamento culturalmente adquirido.

Se não há motivos para se admirar a infidelidade, já que todo comportamento compulsivo é triste, também não vejo a fidelidade, tampouco, como virtude. Aliás, virtude é um conceito impreciso e relativo. Seria, por exemplo, virtuosa a fidelidade quando sequer há o desejo sexual? Ou, ao contrário, a fidelidade de quem deseja profundamente a infidelidade? São questões de difícil resposta porque trazem a eterna dualidade humana. Somos, na verdade, uma máquina sem manual de instruções.

Djalma Filho é advogado.

djalma-filho@brturbo.com.br

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