Rio – A demanda industrial entra em 2006 no nível mais fraco dos últimos sete anos. A conclusão é da pesquisa Sondagem Industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os resultados, divulgados hoje (31), mostram que o cenário é de desaquecimento de atividade e insatisfação entre o empresariado. Para o trimestre, as expectativas para exportações e emprego na indústria também estão mais fracas do que em anos anteriores

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Os dados mostraram que o resultado da pergunta sobre a avaliação da demanda atual foi o pior para meses de janeiro desde 1999, período marcado pelas turbulências da crise cambial do início do ano. O saldo (diferença entre respostas positivas e negativas) ficou em 15 pontos negativos. Apenas 8% das indústrias entrevistadas apontam que a demanda atual está forte, menor parcela desde janeiro de 2000. Outros 23% disseram que a demanda está fraca

"A política monetária provocou uma desaceleração. As expectativas (para os próximos três meses) são ainda muito modestas, mas não são incompatíveis com uma retomada do crescimento", comentou o coordenador da pesquisa, Aloísio Campelo Jr. Depois de citar que a política monetária está virando, com a redução dos juros, ele comentou que o setor industrial passa por uma transição e que as expectativas podem ter chegado ao fundo do poço

A fraca demanda foi apontada por 28% das empresas como um dos principais fatores limitadores da expansão da produção, maior nível desde outubro de 2003 (40%). Um dos poucos dados favoráveis da pesquisa, contudo, foi a estabilização do ajuste de estoques. Segundo a FGV, a produção industrial foi desacelerada desde meados do ano passado com o ajuste. A pesquisa mostra que os estoques estão chegando a níveis normais

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Bens de investimento 

Apesar do fraco desempenho, o nível de ocupação da capacidade instalada em janeiro (84,5%, com ajuste sazonal), ficou pouco abaixo de janeiro do ano passado (84,8%), mas pouco superior a outubro (84,3%). Isso reflete, contudo, baixos níveis de investimento. "É falta de investimento que não foi feito porque os empresários sabiam que o ciclo de aperto monetário ia ser longo", comenta o economista da FGV, Samuel Pessôa

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O uso da capacidade nas indústrias de bens de capital, que produzem máquinas usadas em projetos de investimento, encolheu progressivamente desde janeiro do ano passado, de 84,1% para os atuais 77,9%. Além de baixa demanda interna, o movimento pode estar associado à importação de equipamentos, ressalta Campelo. No segmento de material de construção civil, o recuo foi de 84,3% para 80,9%, na mesma comparação

De forma geral, Pessôa destaca que tem havido maior previsibilidade na economia e que a política monetária foi acertada. "O baixo crescimento não tem nada a ver com o Banco Central", disse Pessôa. Para ele, o crescimento "medíocre" está ligado à microeconomia e aos gastos públicos elevados, que exigem carga tributária alta. Ele criticou o superávit primário, feito, segundo ele, com o aumento da carga, o que prejudica os investimentos

Exportações 

A sondagem também mostra que a parcela de empresas que prevê redução da demanda externa (26%) é a maior desde outubro de 2001. De janeiro de 2004 para o início deste ano, a fatia de empresas prevendo aumento de demanda encolheu de 44% para 29%. Um dos motivos para o pessimismo é a valorização do real, disse Campelo. Para a demanda interna, houve uma ligeira melhora com relação às expectativas dos meses anteriores

Conforme já detectado na prévia da sondagem, divulgada em meados do mês passado, a perspectiva para o mercado de trabalho industrial é negativa. As previsões relativas ao emprego industrial são as piores desde janeiro de 2000: 27% prevêem redução de mão-de-obra e 16%, aumento. A diferença de respostas, de 11 pontos negativos, foi a mais baixa desde o início da década.