Brasília (AE) – A valorização do câmbio, os juros altos e a redução da demanda fizeram com que o nível de atividade industrial no terceiro trimestre se mantivesse estável em relação ao segundo trimestre. Este cenário provocou uma onda de pessimismo entre os empresários, que já admitem uma queda nas exportações e no nível de emprego nos próximos seis meses. A avaliação está na Sondagem Industrial divulgada hoje (28) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O Natal é um ponto que surpreende. Pode crescer mais do que o esperado, mas isso não irá se traduzir em forte recuperação da indústria", afirmou o coordenador da Unidade de Pesquisa da entidade, Renato da Fonseca.
Considerando-se os efeitos sazonais, o terceiro trimestre costuma apresentar um nível de atividade maior que o segundo trimestre. A CNI, no entanto, apurou que o nível de utilização da capacidade instalada, a produção e o faturamento mantiveram-se no mesmo nível, resultando na queda do emprego no setor. Os estoques de produtos finais também ficaram acima do nível esperado pelas empresas pelo terceiro trimestre consecutivo. A formação de estoques "indesejados" é mais forte nas grandes empresas. "Estoques elevados são um sinal de que a produção deverá desaquecer nos próximos meses porque as empresas vão esperar para diminuir a quantidade de produtos estocados", explicou Fonseca.
Segundo a CNI, a demanda desses produtos vem sendo deprimida pela valorização do real e as altas taxas de juros. Esses dois itens aparecem como o segundo e o terceiro maiores problemas enfrentados pelas grandes empresas, atrás apenas da elevada carga tributária. Para as pequenas e médias empresas, onde a perda de dinamismo foi maior, a queda na demanda é atribuída ao acirramento da competição (inclusive das importações) e pela redução no ritmo de concessão de crédito consignado.
O índice geral, que mede as expectativas para a economia brasileira nos próximos seis meses, mostrou empresários otimistas, mudança importante em relação à última pesquisa, realizada em julho. A avaliação passou de 48,5 pontos para 52 pontos. Os indicadores da Sondagem Industrial variam de 0 a 100 pontos e valores inferiores a 50 indicam expectativa negativa. No entanto, quando são questionados sobre pontos específicos da sua atividade, os índices já evidenciam um certo ceticismo em relação ao comportamento da economia nos próximos seis meses.
Pelo segundo trimestre consecutivo, os empresários esperam redução de suas exportações, fato inédito em toda a série histórica da CNI, iniciada em 1998. O indicador ficou em 45,1 pontos, o menor valor já registrado. O resultado também é mais homogêneo. Na última sondagem, 8 setores entre os 17 pesquisados esperavam queda nas exportações. Na pesquisa atual, esse número subiu para 14. Apenas os setores de bebidas e produtos farmacêuticos apresentaram claras perspectivas de aumentarem as exportações. Renato da Fonseca destacou que a taxa de câmbio é o principal problema apontado pelas grandes empresas exportadoras. Entre as pequenas e médias que exportam, este é o segundo maior problema.
Emprego
A sondagem industrial também revela que os empresários mostraram que deve haver novas perdas de empregos no setor nos próximos seis meses. O índice caiu pela quinta vez consecutiva. As empresas também não prevêem aumento de compras de matérias-primas. O indicador recuou de 52,4 para 50,5 pontos, o menor valor desde outubro de 2001 e a quinta desaceleração consecutiva. "Isso pode ser explicado pela elevação dos estoques indesejados", disse Fonseca. Os empresários também mostram-se pouco otimistas quanto à evolução do faturamento nos seis meses seguintes.
Na avaliação do economista, a aprovação da Medida Provisória 255, que trouxe benefícios de desoneração tributária para investimentos produtivos, previstos anteriormente na chamada MP do Bem, vai proporcionar mais investimentos, crescimento e emprego. No entanto, Fonseca não espera um "boom" de crescimento ou de investimentos por causa da MP. "É mais um ponto positivo colocado pelo governo", afirmou.