As indústrias deverão disparar uma nova onda de repasses de preços ao varejo caso o dólar permaneça, nas próximas semanas, no patamar dos últimos dias. Grandes fornecedores concordam que o câmbio está superdimensionado e que a baixa demanda reduz espaço para aumentos de preço. Mas apontam que a desvalorização do real intensifica a pressão dos custos dolarizados, já de meses anteriores.

Além disso, a arrancada do dólar já retarda as negociações do varejo para compras de Natal. ?Se ficar num patamar mais alto vai obrigar fornecedores e supermercadistas a sentarem para negociar novamente?, diz o gerente de Marketing da Sadia, Gilberto Xandó Baptista, citando que, se o cenário perdurar por até três semanas, será necessário rever a estrutura de custos. A alta do dólar encarece o milho e a soja, usados na engorda dos animais. No ano, os custos subiram 30% e a empresa já repassou entre 10% e 15% para os preços.

A escalada do dólar pegou algumas empresas no meio da recuperação de margens perdidas com a desvalorização de meados do ano. É o caso da Bombril, que, dia 1.º, apresentará nova tabela de preços, com aumentos em torno de 4%. Em julho, já havia ajustado os preços em 3%. ?Estamos diluindo o repasse ao longo dos meses?, conta o gerente de Marketing da empresa, Fábio Avari.

Assim como o executivo da Sadia, o gerente da Bombril acredita que o câmbio deverá recuar. ?A Bombril não está usando a cotação atual?, disse Avari. Já a Sadia trabalha com dólar médio de R$ 3,00, conta Xandó.

Motivos

Para o presidente da Procter & Gamble do Brasil, Hermann Schwarz, não há motivos no curto prazo para a atual cotação. Schwarz avalia que o câmbio retrocederá e afirma que é necessário levar em conta o ?câmbio em prazos mais longos?.

O economista Milton Dalari, sócio da Dimensão Consultoria, entretanto, avalia que ?está ficando cada vez mais difícil administrar a pressão de custos gerada pelo câmbio? e que a ?queda de braço entre indústria e varejo vem aumentando?.

No caso das cervejas, a retração do mercado poderá empurrar os reajustes para o início do ano que vem, segundo o diretor de Marketing da Kaiser, Julio C. Pedro. A empresa, que importa todo o malte que consome, aumentou seus preços em 6% em julho. ?Não repassamos tudo e estamos tendo perda de margem?, afirma.

A escalada do dólar também afetou as negociações dos supermercados para compra de produtos natalinos. ?A saída é jogar um pouco mais para frente a negociação de Natal, para ter uma visão um pouco mais clara do câmbio?, confirma o vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Aylton Fornari.

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