O complexo industrial da Kraft Foods Brasil, subsidiária da Kraft Foods Inc. (Grupo Phillip Morris), inaugurado nesta quinta-feira (14) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba, é resultado da transferência, nos últimos três anos, de duas fábricas da Lacta (marca pertencente à Kraft) de São Paulo. Na época, a operação, que resultou da guerra fiscal entre os dois Estados, deixou como efeito colateral a demissão de 3 mil trabalhadores paulistas.
A unidade da Kraft em Curitiba, no bairro de Cidade Industrial, é hoje responsável por toda a produção de chocolates, bebidas em pó e queijo cremoso da empresa no Brasil. Recebeu investimentos de mais de US$ 120 milhões desde a transferência, em 2000.
Cerca de três mil funcionários das unidades da Lacta nos bairros paulistanos de Pinheiros e Brooklin perderam o emprego com a mudança, segundo estima o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação de São Paulo, Salvador Pinheiro. Ele relata que a justificativa dada aos empregados na época foi que as unidades em São Paulo não tinham capacidade de produção.
?Nossa maior empresa era a Lacta?, diz, lembrando que a empresa empregava cerca de cinco mil funcionários na Grande São Paulo. Os funcionários demitidos receberam todos os direitos trabalhistas, curso de requalificação no Senai e assistência médica por seis meses paga pela empresa. A base do sindicato, segundo Salvador, caiu de 100 mil trabalhadores em 98 para 40 mil neste ano. ?São Paulo está perdendo muitas fábricas grandes para outros estados e para o interior?, diz.
A Kraft Foods Brasil é uma das maiores empresas de alimentos do país – subsidiária da Kraft Foods Inc., a maior companhia de alimentos dos EUA e a segunda no mundo, com 100 anos de existência. São cerca de 200 fábricas distribuídas em mais de 150 países. Sua sede fica em Curitiba, mas, em todo o Brasil, outras 11 unidades mantêm mais de dez mil empregados.
O Estado do Paraná confirmou ter dado incentivos indiretos para a reativação da unidade da Kraft em Curitiba, por meio do programa ?Paraná Mais Empresas? (na gestão atual, substituído pelo ?Bom Emprego?). Outras indústrias beneficiadas por esse projeto foram Volkswagen/Audi, Renault e Chrysler. O incentivo consiste na dilatação de prazo para recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) gerado. Concedeu-se um prazo de 48 meses para o pagamento de 80% do ICMS do período de 2001 a 2005. Esse porcentual permanece em 80% no período de 2005 a 2007 e reduz-se para 50% de 2007 a 2017. Segundo dados do governo do Estado, o limite do benefício (montante das parcelas com prazo dilatado) é o equivalente a 2,5 vezes o montante do investimento.
Outras medidas de incentivo do governo do Paraná foram gestões quanto ao suprimento de energia elétrica e gás natural, implantação de linhas de transporte coletivo utilizadas pelos funcionários e visitantes e atendimento agilizado dos serviços de coleta de lixo e de limpeza pública.
A assessoria da empresa nega que a mudança tenha ocorrido em virtude de incentivos fiscais. Segundo o governo do Estado, o Paraná foi escolhido após estudos e análise sobre recursos, capacidade e potencialidades técnicas, econômicas, regionais e mercadológicas.
De acordo com o secretário da Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul do Estado do Paraná, Luiz Guilherme Mussi, como contrapartida, a empresa se comprometeu a gerar 4 mil empregos diretos e cerca de 10 mil empregos indiretos.
