Beneficiadores de mandioca da região de Paranavaí seguem expandindo a atividade. Muitos estão alinhavando contratos de exportação para os próximos meses. Apesar da baixa cotação do dólar, os industriais confiam de que o futuro reserva vendas melhores e investem na prospecção de novos mercados.
O movimento em direção ao mercado externo é um dos frutos do trabalho de organização da exploração da mandioca em Arranjo Produtivo Local (APL), o que permite que os empresários trabalhem em conjunto para alcançar resultados comuns, seja na busca de novos negócios, qualificação de mão-de-obra, investimento em tecnologia, seja na negociação de financiamentos em melhores condições de pagamento.
A implantação do APL vem sendo incentivada pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), junto com parceiros públicos e privados, há pelo menos um ano. A região apresenta grande diversidade de porte de indústrias, produtoras de farinha de mandioca ou fécula, valiosa pelo amido e utilizada em vários setores industriais. Alguns investem na valorização do produto e vendem o alimento pré-cozido.
Mercado
De acordo com o IBGE, o Paraná é o terceiro maior produtor nacional de mandioca, atrás do Pará e da Bahia, com 144 mil hectares plantados que geraram, em 2002, 3,4 milhões de toneladas, correspondendo a mais de 15% da produção nacional. São hoje 65 mil produtores da raiz, a maioria pequenos proprietários. Tanto para produtores como para beneficiadores, que somam 35 empresas formalizadas e cerca de 30 informais, o grande inimigo é a variação de preço. Em 2003, a tonelada de fécula atingiu o preço de R$ 1.100. Atualmente, o produto está cotado em R$ 600. Já a saca de farinha de 50 quilos, que na época chegou a R$ 70, hoje custa R$ 20, em média.
Para estimular os industriais a coordenarem a produção de forma a não gerar oferta demais, que baixa o preço, os organizadores do APL levam consultores para explicar assuntos ligados a vendas, mercado e produção.
O foco do projeto de valorização do pólo, elaborado em conjunto com a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca, é o incentivo ao aumento do valor agregado dos produtos da região, que tem clima e solo que permitem a produção de uma mandioca mais branca e, como conseqüência, de uma farinha igualmente mais pura. O Paraná produz 70% da fécula de mandioca utilizada no Brasil, um produto que, quando modificado, é matéria-prima para diversas indústrias, como a têxtil, a alimentícia (incluindo todos os embutidos produzidos no Brasil, massas e biscoitos), a farmacêutica e a papeleira.
Ivo Pierin Jr., proprietário da Comercial Agrícola Anhumaí, que produz farinha e fécula da marca Podium, acredita que o grande benefício trazido pela estruturação do APL é a maior organização de produtores. ?Está em curso uma mudança cultural, que passa pela reeducação de todos?, acredita.
Adilton Viana e a família trabalham há duas décadas com a produção de farinha, na cidade de Mandiocaba, região de Paranavaí. Para ele, a organização do APL trouxe algo novo à rotina produtiva: reuniões com outros pequenos industriais, pessoas que até então eram somente concorrentes ou nem mesmo conhecidos. ?Agora estamos trocando informações e me elegeram presidente da Associação das Indústrias de Derivados de Mandioca do Paraná?, conta, esperançoso.
Pesquisa
A pesquisa aplicada também vem qualificando a produção industrial da mandioca. Em 2005, o campus da Universidade Paranaense em Paranavaí desenvolveu 22 projetos financiados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do Instituto Euvaldo Lodi, Senai e Sebrae e CNPq.
Boas oportunidades foram identificadas com o fornecimento de mandioca pré-cozida, em diversos formatos. Grandes indústrias como Sadia e Perdigão, por exemplo, já oferecem o bolinho de mandioca recheado e a mandioca em pedaços ou palitos, congelados e prontos para fritura.
Luiz Rebola Sobrinho, que produz alimentos pré-cozidos da marca Aruaque, vende a tonelada de massa do produto pré-cozido a R$ 1,5 mil – mais que o triplo do rendimento proporcionado pela fabricação de farinha. A aceitação do mercado por produtos prontos nutritivos, como é o caso da mandioca, é quantificada no aumento de faturamento da empresa: em 2004 foram R$ 600 mil, passando para uma expectativa de R$ 1,8 milhão este ano.