A indústria de transformação deve começar o ano com ritmo lento de produção por causa do fraco desempenho do comércio neste Natal, especialmente no caso da venda dos bens duráveis, como os eletrônicos. O acúmulo de estoques nas lojas além do previsto na virada de ano vai ditar um volume de encomendas menor neste mês, comparado com janeiro de 2006.
?O ritmo de produção de bens duráveis deve ser mais brando neste início de ano, porque as lojas não venderam bem em dezembro?, disse Maurício Loureiro, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, onde está o pólo industrial da Zona Franca de Manaus. Ele conta que a maioria das fábricas deve retomar as atividades na semana que vem, quando os pedidos começarão a ser feitos.
As vendas de bens duráveis no fim do ano passado tiveram comportamentos distintos. Os segmentos de informática e de eletroportáteis foram muito bem, enquanto os aparelhos de imagem e som e os eletrodomésticos de grande porte deixaram a desejar. O temor da indústria é o de que, influenciados pelas vendas fracas da linha de imagem e som, os varejistas ponham o pé no freio nas encomendas de outros setores. ?Acreditamos que o ritmo de encomendas no início de ano será mais moderado do que em 2006?, diz um executivo da indústria.
As Lojas Cem, por exemplo, têm estoques para 50 dias e devem voltar às compras só na segunda quinzena do mês que vem. Em outros anos, diz o supervisor geral, Valdemir Colleone, a reposição ocorria no fim de janeiro. ?O comércio como um todo virou o ano com um pouco mais de estoques do que o esperado.? Segundo ele, janeiro deve ser relativamente fraco para a indústria, mas forte para o comércio.
Pesquisa da Fecomércio do Rio de Janeiro revela que o comércio encerrou dezembro vendendo 56,6% dos estoques, ante 58,2% em 2005. Foi a menor taxa dos últimos anos.
Ajuste
Enquanto as lojas tentam se livrar dos estoques indesejados, a indústria já conseguiu se ajustar na virada do ano. Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 7% das empresas acumulavam estoques excessivos no mês passado. É praticamente a metade do registrado em dezembro de 2005, quando 13% das indústrias informavam que tinham um volume de produtos indesejável em seus depósitos.
De acordo com a sondagem, que consultou 1.010 companhias entre os dias 1º e 28 de dezembro (boa parte antes do balanço do fim do ano), há uma expectativa ligeiramente mais favorável para a produção entre dezembro e fevereiro, diz o coordenador técnico da pesquisa, Jorge Ferreira Braga.
Em dezembro do ano passado, 25% das indústrias informaram que projetavam uma produção maior para os próximos três meses, ante 24% que esperavam uma produção menor. Em dezembro de 2005, no entanto, 28% das companhias esperavam uma produção maior entre dezembro e fevereiro e 35% projetavam um recuo.
A sondagem da FGV aponta que as expectativas mais favoráveis de produção para o trimestre que vai até fevereiro são dos fabricantes de materiais de construção e de bens de capital, enquanto para os bens de consumo o quadro piorou em relação ao início de 2006.
Apesar do ritmo mais lento esperado para os bens de consumo, especialmente os duráveis, os fabricantes de eletrodomésticos de grande porte estão otimistas para este trimestre. A Whirlpool prevê crescimento de 15% e a Mabe, entre 6% e 8% na comparação anual.