O PMDB está diante do dilema: independência ou morte. Governadores e líderes do partido reuniram-se em São Paulo e até gente que lutou denodadamente para que a agremiação se integrasse às bases situacionistas hoje prega o desligamento. O entendimento é que o PMDB, como pingente do governo Lula, só vem enfraquecendo e é hora de tornar-se independente para, com programa e candidato, disputar as eleições presidenciais de 2006.
A grande agremiação de Ulisses Guimarães enfraqueceu-se, ao longo dos anos, por dissensões internas e por seu próprio gigantismo. Por suas portas frontais poucos entraram, mas as dos fundos estiveram abertas para os que abraçavam ou não suas teses e seguiam ou não seus objetivos. Passou a ser um gigantesco saco de gatos, todos em busca exclusiva de algum cargo no poder. Com isso, a agremiação perdeu autenticidade. Poderia ser peemedebista qualquer um, desde que tivesse como objetivo cargos e poder. Não importavam nem importam ainda programas e ideologias. É um partido que mistura um Michel Temer com um Quércia e um Roberto Requião, talvez este o único desses líderes que é verdadeiramente ideológico. Tão ideológico que, entendendo o PMDB como um partido popular, nacionalista e de esquerda, apoiou o governo Lula, sem nada pedir, a não ser que seguisse a doutrina de esquerda democrática que pregou em sua campanha e uma política econômica independente do Fundo Monetário, suas doutrinas e sem bajulações ou subordinações aos Estados Unidos.
Quando os primeiros peemedebistas ditos autênticos ou ortodoxos gritaram contra a política econômica do governo Lula, o mesmo fez o governador peemedebista do Paraná. Não rompeu com Lula, pois o PT ainda continuava sendo para ele a melhor opção para o Brasil de hoje. Não se aliaria e por certo não se aliará à oposição que se consolida com o PSDB e o PFL. E o mesmo parecem pensar os demais governadores que se reuniram em São Paulo. Reivindicaram independência para o PMDB e até a volta do velho nome de guerra: MDB.
Essa independência está sendo defendida pelos governadores Joaquim Roriz (DF), Rosinha Mateus (RJ), Germano Rigotto (RS) e Roberto Requião. O ex-governador e presidente do partido em São Paulo, Orestes Quércia, tem a mesma posição. O mesmo acontece com o governador Luiz Henrique, de Santa Catarina, ausente ao encontro por estar no exterior. É favorável, também, Jarbas Vasconcelos, governador de Pernambuco.
Os peemedebistas que reclamam independência e vida própria para o partido não lutam por oposição ao governo Lula e, sim, pela oportunidade de montar programa próprio, estrutura adequada e concorrer à sucessão presidencial. Querem, como enfatiza Requião, um programa econômico nacionalista e conseqüente, pois já deixou bem claro que, neste campo, diverge de frente dos caminhos que percorre Lula.
São contra esse grito de liberdade os dois ministros peemedebistas, mas aí é amor aos cargos que encobre eventuais divergências ou produz conveniente cegueira.
Sobre quem poderia ser o candidato peemedebista à sucessão de Lula falou-se em Garotinho. E a mulher dele, a governadora Rosinha, do Rio, é uma das insurgentes. O que nos parece muito mais provável é que as coisas caminhem para um nome de mais peso, como o de Requião, de Jarbas Vasconcelos ou mesmo de Luiz Henrique, de Santa Catarina, ou Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul.
O PMDB, afinal, parece que descobriu que é “independência ou morte” e é preciso salvar a histórica legenda de Ulisses Guimarães.