Rio de Janeiro – As campanhas governamentais sobre prevenção e tratamento do câncer serão aperfeiçoadas com base na pesquisa de opinião Concepção dos Brasileiros sobre Câncer, realizada pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), que ouviu 2.100 pessoas em todo o país. O objetivo do levantamento foi o de encontrar formas de comunicação mais direta com a população, já que 470 mil novos casos de câncer ocorrem por ano no país.
O resultado parcial do trabalho, feito em sete capitais, foi divulgado nesta sexta-feira (25) como parte das comemorações dos 70 anos do Inca.
Os dados pesquisa feita em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, João Pessoa e Goiânia revelam que a maioria da população só identifica o fumo e a exposição excessiva ao sol como fatores causadores da doença , seguidos pelo consumo exagerado de bebida alcoólica. Mas não relacionam como fatores de risco a falta de atividade física, que pode causar tumores nos intestinos; a alimentação inadequada, que pode afetar o estômago, e as relações sexuais sem o uso de preservativos, que podem causar tumores de colo de útero.
O diretor-geral do Incra, Luis Antonio Santini, classificou o resultado do trabalho como "fantástico" e disse que as campanhas de orientação já realizados estão no caminho certo , mas precisam de uma reorientação para se evitar o preconceito contra a doença e a relação entre morte e dor feita por 80% dos entrevistados.
" É preciso, primeiro, desmistificar pessoas que temem procurar um médico para fazer exame preventivo do câncer do colo do útero porque têm medo de encontrar a doença", defendeu.
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que participou da comemoração do aniversário do Incra, também defendeu a expansão do trabalho de divulgação. "Nós temos que trabalhar mais no sentido de que a informação seja a arma principal na luta contra o câncer", disse.
Segundo o ministro, para que as campanhas educativas tenham maior alcance é preciso incluir no esquema a participação de rádios comunitárias, o uso maior da internet, a colaboração das organizações não-governamentais e dos sindicatos.
A relação entre fumo e câncer foi identificada por 100% dos entrevistados em Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre e João Pessoa. Segundo o Inca, 90% dos casos de câncer de pulmão estão relacionados ao tabagismo. A exposição ao sol também teve unanimidade em Porto Alegre e João Pessoa. O câncer de pele, segundo ainda o Inca, aflige 122.400 pessoas por ano. Já o consumo de álcool é associado à doença por 90,9% dos entrevistados, e Porto Alegre foi a capital que menos reconheceu a ligação, somente 66,7% identificaram a relação contra 33%.
Mesmo o fumo sendo reconhecido pela população como o maior causador de câncer, Lea Moreira da Silva, de 71 anos, fumava na porta Inca, enquanto aguardava o horário da consulta. Ela disse que deixou de fumar há 20 anos e conseguiu vencer um câncer no pescoço e volta periodicamente ao instituto para exames. "Eu estou de alta, mas voltei a fumar porque minha filha ficou sabendo há três dias que está com câncer nos ossos. Eu tive um choque, não esperava essa. Mas vou deixar [de fumar]".