Foi inaugurado nesta quinta, 17 de junho, o Centro de Memória da Justiça do Trabalho do Paraná. O espaço fica no prédio anexo à sede do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, na Alameda Carlos de Carvalho, 528, no centro de Curitiba, é aberto ao público e está aberto à visitação. A cerimônia fechou o primeiro dia de atividades da III Reunião Ordinária de 2010 do Coleprecor, o Colégio de Presidentes e Corregedores da Justiça do Trabalho, que normalmente se reúne em Brasília mas se deslocou a Curitiba para a inauguração do Centro e para conhecer alguns dos projetos relacionados ao processo judicial digital desenvolvidos no Paraná.

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O presidente do TRT-PR, desembargador Ney José de Freitas, ressaltou a relevância da memória para as instituições, em um discurso que rastreou múltiplas definições do tempo, na ciência, na literatura e na poesia:

“Neste Tribunal as épocas não hão de se perder. O Centro de Memória, que neste ato é inaugurado, é a instância desse imprescindível resgate. É o foro da recuperação da nossa história. É a detentora da competência territorial, na qual se deposita a lembrança daquela viração de chuva, daquele cheiro da pequena labareda – efêmera, sim, mas não evanescente, se a tivermos guardada e ao nosso alcance. Neste Centro de Memória da Justiça do Trabalho do Paraná, não haverá preclusão. Não haverá decurso de prazo decadencial. Neste Centro, não haverá prescrição alguma. Aqui é o lugar, no âmbito do Judiciário e das relações de trabalho no Paraná, onde estará aquele “tempo reencontrado”, a que se referia Proust. Se a história, como advertia Cervantes, é mais que um êmulo dos tempos; se é mais que um depósito de ações; mais que uma testemunha do passado; se a história é ainda mais do que um mero aviso do presente; por fim, se a história constitui uma advertência do que poderá advir no futuro – é fundamental que olhemos para trás. Sem conhecê-la, não interpretamos nosso tempo. Sem estudá-la e compreendê-la, não seremos capazes de planejar e construir um futuro com a segurança e um mínimo de previsibilidade. Como bem observou Eric Hobsbawn, “a história das classes trabalhadoras engloba sindicalizados e não-sindicalizados; politizados e não-politizados; os que fazem greve e os que furam greve”. A necessidade de historiografrar esta instituição é dever cultural que temos para com as futuras gerações. É imperioso proporcionar, ao pesquisador de amanhã, condições de acesso memorial à documentação de interesse acadêmico, jurídico e social. O acervo, que queremos permanentemente ampliado, não se limita aos autos findos. Contempla documentos, fotos, livros, pronunciamentos e entrevistas recentemente gravadas em vídeo, com aqueles que fizeram, fazem e farão a história desta Justiça. Este Centro, contudo, leva em conta que a história não se resume a um mero breviário de vida ou de atuação profissional de uns poucos homens e mulheres que administraram o aparelho judicial. Ela é, abrangentemente, coletiva e comunitária. Bem por isso, não é personalista, embora reconheça a importância de seus personagens. Em última análise, este Centro é institucional e positivamente funcionalista. Ao longo dessas décadas, a Justiça do Trabalho foi mais que mediadora: foi o instrumento social de solução – conciliada ou não – dos conflitos resultantes de litígios individuais e coletivos de sua competência. Foi o respaldo judicial à garantia de direitos. Foi a resposta aos desafios das mudanças sociais e econômicas. O que todos inauguram conosco, nesta noite, portanto, não é uma cápsula do tempo. Não é um flagrante. Não é o passado congelado em alguma quimera criogênica. O Centro de Memória é uma ferramenta da renovação, é uma resposta a múltiplos desafios. Por meio dele, nossa geração se apossa da herança intelectual dos que nos precederam na Justiça do Trabalho. Não foi idealizado para servir de consolo por algum saudosismo, mas para suprir uma necessidade, imprescindível. Tal como em nossas vidas pessoais, realizamos por vezes a revisão da história que nos constituiu, também as organizações necessitam recapitular e identificar os momentos que lhes deram a constituição que ora exibem. O Centro de Memória, portanto, é esse arcabouço para o novo. É uma mostra das verdades simples que se fizeram perenes.”

Os convidados assistiram a um vídeo institucional de apresentação do Centro de Memória da Justiça do Trabalho do Paraná. Após, resgatando a memória, o Tribunal trouxe à lembrança que seu auditório foi, por muitas décadas, sede da Sociedade Rio Branco, tradicional entidade social e cultural de nossa Capital. E para  celebrar a inauguração, houve a apresentação do Grupo Folclórico Germânico Alte Heimat, que significa “Antiga Pátria”, em quatro pares, com trajes do sul da Alemanha, representativos do início da atuação do Grupo no Clube Rio Branco.

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Essencialmente amador e com 50 integrantes, o Alte Heimat busca manter, por meio de sua paixão pela dança e à tradição de seus antepassados, a memória da imigração alemã no Paraná.Nestes 46 anos, realizou apresentações pelo Brasil e em países vizinhos. Foi um dos destaques da inauguração do Teatro Guaíra e, desde então, participa todos os anos do Festival Folclórico e de Etnias do Paraná.

O presidente do TRT do Paraná, desembargador Ney José de Freitas e a conselheira Morgana de Almeida Richa, juíza do trabalho integrante do Conselho Nacional de Justiça, descerraram a placa alusiva à instalação do Centro de Memória da Justiça do Trabalho do Trabalho da 9ª Região. O desenlace da fita inaugural do espaço do Centro de Memória foi feito pelo corregedor da 9ª Região da Justiça do Trabalho, desembargador Arnor Lima Neto, a Vice-Presidente do TRT-PR, desembargadora Rosemarie Diedrichs Pimpão, e a desembargadora Rosalie Michaele Bacila Batista, que teve, na mesma ocasião, seu retrato aposto junta a Galeria de Retratos dos Ex-Presidentes do Tribunal. Na gestão da desembargadora Rosalie foi adquirido e restaurado o prédio histórico em que agora funcionará o Centro de Memória.

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A composição do acervo do Centro da Memória começou em 2003 e se acelerou no início deste ano, junto aos servidores das diversas unidades judiciárias do Estado e também à comunidade. Os cadernos processuais de valor histórico estão sendo digitalizados na íntegra e deverão ser disponibilizados para pesquisa na Internet. O Centro de Memória será o ambiente principal para as atividades do Projeto Memória do TRT-PR, que prevê, ainda, exposições voltadas às relações de trabalho e reprodução de vídeos de profissionais do Brasil e do Exterior.

Quem for ao local poderá observar documentos, autos de processos, móveis, fotografias e outros objetos de valor para o resgate e a conservação da memória histórica da Justiça do Trabalho. Entre os processos históricos estão autos da década de 1930, protocolados, em grande parte, por imigrantes europeus, principalmente alemães e poloneses, que formavam a mão de obra local na época. As instalações do Centro reproduzem uma sala de audiências antiga, com móveis e objetos relacionados ao Judiciário Trabalhista.