Pela primeira vez desde 2000, o número de registros de inadimplência nos cartões ultrapassou o do cheque sem fundo em 2005. Isso fez soar um sinal de alerta, porque o cartão de crédito é uma das linhas de financiamento mais caras para o consumidor.
Além disso, a aceitação do cartão crédito parcelado em prazos longos por inúmeras redes varejistas no Natal só aumenta a expectativa de um volume maior de atrasos para os próximos meses, quando começam a vencer também as despesas obrigatórias com matrículas escolares e impostos, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
No ano passado, as dívidas com cartões de crédito, de loja e carnês de financeiras tiveram o maior peso no calote da pessoa física e responderam por 34,4% do número de documentos em atraso, segundo levantamento nacional da Serasa, empresa especializada em informações financeiras. Já a fatia do cheque, que sempre liderou a inadimplência, encolheu de 34,5% em 2004 para 33% em 2005.
Também por conta da abundante oferta de crédito, a inadimplência geral das pessoas físicas cresceu 13,5% em 2005 ante o ano anterior, depois de ter aumentado 3,1% de 2003 para 2004. Com isso, o calote do consumidor no ano passado registrou a maior taxa de crescimento do governo Lula, de acordo com o Indicador Serasa de Inadimplência.
Esse indicador considera as dívidas em atraso com cartões, crediários de financeiras e de bancos, títulos protestados e cheques. O número de dias em atraso, neste caso, varia de acordo com o critério de cada instituição que inclui seu cliente inadimplente no cadastro da Serasa.
"Soou o sinal de alerta", afirma o assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida. Apesar do volume de crédito ao consumidor ter crescido significativamente em 2005, 41,5% em termos nominais e 32,5% descontada a inflação do período, um acréscimo de 13,5% é importante, diz o economista. Ele observa, no entanto, que esses números praticamente não incluem a inadimplência advinda das compras de fim de ano.
Almeida destaca também que o maior peso da inadimplência em número de registros ocorreu nos cartões e nos créditos concedidos por financeiras, puxado especialmente pelos cartões de crédito e cartões de loja. "A inadimplência cresceu num dos instrumentos mais caros de financiamento", ressalta o economista.
Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac) revela que a taxa média mensal de juros no cartão de crédito estava em 10,25% em dezembro. No empréstimo pessoal concedido por financeiras, o encargo era de 11,73% ao mês no mesmo período.
Já a taxa média ao consumidor, que inclui os juros de lojas, cheque especial, crédito direto ao consumidor e empréstimo pessoal de bancos, além de cartão de crédito e empréstimo pessoal de financeiras, estava em 7,59% ao mês em dezembro, segundo a pesquisa da Anefac. São exatamente essas duas linhas de crédito, a do cartão e das financeiras, as mais caras do mercado para o consumidor.
O aumento da inadimplência nos cartões de crédito é confirmado pelo presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Jair Scalco. O atraso acima de 90 dias fechou 2005 entre 8,5% e 9% dos créditos a receber, um ponto porcentual acima do registrado em 2004.
"Esse aumento não preocupa", diz o presidente da Abecs. Para ele, um acréscimo da ordem de 10% na inadimplência em 2005 é compatível com o aumento de cerca de 30% no faturamento no mesmo período. É que a alta da inadimplência foi menos do que proporcional ao crescimento nos volumes financiados. Hoje cerca de 800 mil estabelecimentos comerciais aceitam cartões no País, número que cresce a uma taxa de 20% ao ano.