Muitos jovens não sabem se comportar quando precisam tomar decisões relativas ao dinheiro, principalmente porque as decisões estão mergulhadas em raízes emocionais. A grande dificuldade está em adiar uma satisfação pessoal, principalmente se o dinheiro está disponível e desprotegido contra o pior inimigo na conta corrente, o próprio jovem
consumista.
No tocante aos gastos, existem lições importantes. Não se pode ter tudo o que se quer! É necessário aguardar o momento ideal e fazer escolhas. Querer não é sinônimo de precisar. Os jovens são facilmente convencidos, pela publicidade, a consumir produtos e serviços e, por isso, esquecem que o fundamental é ter uma reserva monetária e não contrair dívidas que não poderão ser pagas.
O comportamento isolado e inadequado de cada indivíduo reflete nos números coletivos da economia do país. A cada ano, cresce o número de brasileiros endividados e o total de inadimplentes (quem têm dívidas em atraso), jovens ou não, aumentou 89,24% em julho deste ano, em relação ao mesmo mês de 2005. Isso indica que o sistema de crédito do país pode estar caminhando para um colapso. Mais da metade dos paulistanos está endividada e 32% deles admitem não ter como pagar as dívidas. As dívidas
com cartões de crédito e financeiras (valor médio de R$ 303,55) tiveram o maior peso na inadimplência dos consumidores. O segundo maior índice foi o de cheques sem fundos (valor médio de R$ 575,06) e as dívidas com os bancos registraram a terceira maior participação no indicador (valor médio de R$ 1.108,16).
Até certo ponto, é paradoxal esse quadro de inadimplência porque, segundo o Dieese, em 82% das 271 negociações salariais pesquisadas ocorreu reajuste superior à inflação (2,75%) gerando, portanto, os maiores reajustes salariais dos últimos dez anos. Esse endividamento, de maneira geral, ocorreu devido à falta de habilidade do consumidor de
lidar com a expansão da oferta de crédito (consignado 60,9% e pessoa física 33,2%) e do alongamento nos prazos de pagamento (prazo médio de 36 meses). As prioridades dos devedores, na hora de acertar as contas, são: prestação do imóvel, prestação do automóvel, despesas básicas, cartão de crédito, saúde e, por fim, educação.
O jovem brasileiro (de 18 a 30 anos), em média, ganha de dois a três salários mínimos e, apesar de em muitos casos não ter a responsabilidade de sustentar uma família, representa 40% dos brasileiros com inadimplência. Quase metade dos gastos com cartão de crédito (maior concentração na faixa etária entre 21 e 30 anos) está relacionada com
alimentação, roupas e calçados. Poucos se preocupam com a possibilidade de perder o emprego ou o estágio. Por outro lado, o desemprego representa quase metade das causas da inadimplência. O nome inserido nos cadastros de proteção ao crédito (jovens com até 21 anos correspondem a 6%) pode ser um grande obstáculo para aqueles que pretendem uma vaga no mercado de trabalho ou um empecilho para manter-se empregado.
E quais as atitudes para não cair na armadilha da inadimplência ou sair
dela?
– abandonar a onda de consumismo: saia de casa com apenas uma folha de
cheque na carteira; deixe na gaveta o cartão de crédito e adquira o
hábito de sair de casa com o dinheiro contado.
– nunca avançar no limite do cheque especial (as taxas de juros são
elevadas!). Portanto, para participar de baladas peça autorização ao
seu bolso;
– tenha sempre como reserva o valor equivalente ao de um salário na
conta corrente para fazer uma pequena poupança que irá se multiplicar
nos meses seguintes, se você tomar gosto pelo hábito;
– utilizar racionalmente o telefone celular e usar o telefone fixo com a
Internet apenas para ler e-mail;
– sempre que possível, trazer refeições e sanduíches de casa;
– utilize o transporte solidário com colegas, dividindo gastos de
combustíveis e estacionamentos.
*Marcos Crivelaro é cientista e professor PhD de Administração e Planejamento. Leciona na FIAP – Faculdade de Informática e Administração Paulista e na Faculdade Módulo no segmento de Matemática e Informática e atua em treinamentos "in company" e consultoria nas áreas Administrativa e Financeira.