Os militares se manifestaram, por escrito, sobre a crise política. Mais que uma advertência, foi um protesto feito pelos clubes militares e firmado, em nome de seus associados, pelo almirante-de-esquadra José Júlio Pedrosa, presidente do Clube Naval; tenente-brigadeiro-do-ar Ivan Frota, presidente do Clube da Aeronáutica; e general-de-exército Luiz Gonzaga Schröeder Lessa, presidente do Clube Militar. Tais clubes são entidades que congregam pessoal da reserva, já que aos da ativa não são permitidas manifestações de ordem política, enquadrados que estão em rígidas normas de hierarquia e disciplina. Não obstante, quando os clubes militares falam, há que se entender que não se pronunciam em dissonância com seus colegas da ativa. Pelo contrário, muitas vezes transformam-se em seus porta-vozes, emitindo opiniões comuns da classe.
No documento firmado dizem que ?têm acompanhado com crescente apreensão o desenvolvimento da grave crise que envolve o partido do governo, grande número de políticos e o próprio governo federal, em um escândalo de corrupção sem precedentes na história do País?. Dizem estar estarrecidos com a montagem de um esquema de corrupção, cujo objetivo é corromper membros do Congresso Nacional para fazê-los aprovar proposições altamente discutíveis, em benefício do partido do governo e de seu projeto de poder. Essa crítica não destoa da que já domina a opinião pública. Demonstram sua decepção causada por um grupo político que se pretendia depositário da ética nacional e um governo que representava a esperança do País.
Importante é que no manifesto os militares reconhecem que, ?felizmente, as instituições funcionam perfeitamente, apesar dos desmandos políticos, e estão preparadas para preservar a normalidade democrática do País. Acrescentam: ?Confiamos que nós, militares, juntamente com os demais brasileiros ordeiros, sérios, trabalhadores, corajosos, democratas e patriotas, saberemos impedir manobras que visem à desestabilização institucional do País, em proveito de posições políticas extremistas e sectárias, de quem quer que seja?.
Nesse trecho, deixam bem clara a via democrática para a solução da crise, reafirmando confiança nas instituições e, indiretamente, dando garantia de que não farão nem tolerarão golpes. Entendem que nesse ambiente de normalidade institucional há pouco a comemorar e muito a lamentar, dando como exemplo o processo de eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, quando se usaram práticas deletérias de cooptação, envolvendo dinheiro público e outros recursos do Estado.
Aí, apresentam a sua maior preocupação: ?Que sejam negociados acordos espúrios com a finalidade de impedir a expulsão de cena de falsos representantes do povo?. Manifestam sua repulsa a qualquer tentativa de afrouxamento das investigações que estão sendo realizadas pelas CPMIs, no Congresso. Exigem, como toda a sociedade exige, a punição dos culpados. Afirmam que os crimes cometidos estão amplamente tipificados, mas que há no ar um clima de composição para isentar de culpa os que foram flagrados no exercício de faltas graves que atentam contra o decoro, a honestidade e a exação nos seus mandatos. Rejeitam peremptoriamente a ?operação abafa? e as dificuldades que se criam para a descoberta da origem do dinheiro espúrio. E proclamam: ?Impunidade, não!?.
