Mas o governo não está muito preocupado com isso. Lemgruber expressa com clareza a filosofia tributária do governo, condenada em todos os círculos empresariais da República: reduzir a carga dos impostos é provocar o desequilíbrio das finanças do Estado, gerando um colapso geral, cujos riscos seriam maiores para o Brasil. Vivemos sob o império do bem-estar do governo às custas da miséria cada vez maior dos súditos, como nos velhos tempos medievais. O melhor indicativo disso é a classificação brasileira no ranking dos governos aparelhados com serviços via internet: ganhamos do Japão, Itália e Áustria, estabelecidos no primeiro mundo, mas mantemos índices de países subdesenvolvidos quando se trata de contabilizar os usuários do serviço disponibilizado pelo Estado. Isto é, temos muitos e bons computadores. Mas para meia dúzia usar.

Faz poucos dias o Tribunal de Contas da União previu um quadro sombrio para a economia brasileira. Ao analisar os resultados obtidos no ano passado, o TCU sugeriu ao Congresso Nacional a aprovação das contas do governo relativas ao ano passado, mas considerou insustentável a atual taxa de juros, superiores a 18%. Em quatro anos, ela simplesmente dobrará a dívida pública mobiliária federal, já na casa dos 670 bilhões de reais. Aplicando o ensinamento de Andréa, nossos impostos subirão à estratosfera.

Às profecias internas vêm juntar-se aquelas externas: o polêmico economista norte-americano Rudiger Dornbuch, de passagem por Genebra, disse dias atrás que a má gerência das finanças pelos bancos centrais, e não a ação de especuladores, é o caminho da ruína econômica de países emergentes como o Brasil. Culpou, assim, por antecipação, o presidente Fernando Henrique Cardoso por uma eventual futura crise que atingirá o País, a exemplo da Argentina. Ave de mau agouro, Dornbuch coloca a culpa nas negociatas políticas que conduziram FHC ao segundo reinado.

Se o Planalto, silente, engoliu em seco a crítica do economista maldito, no centro econômico do País, representantes da classe empresarial repetiam em coro que o governo está arrecadando cada vez mais patrimônio de cidadãos e trabalhadores. O aumento brutal da carga tributária verificado nos últimos anos, entretanto, não reverteu em melhoria de serviços para a população. Estão aí as estradas, os hospitais, as escolas decadentes a provar isso, enquanto a segurança pública serve já de apanágio a nosso descalabro final. “Estamos no pior dos mundos”, disse o diretor do Departamento de Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de SP, Mário Bernardini.

Com efeito, aqui Ä como já se disse alhures Ä a carga tributária aumenta independentemente de a economia estar indo bem ou mal. Coisa difícil de acontecer em países onde a democracia existe para valer.

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