A idéia de impeachment do presidente Lula está velha e mofada. Voltam a falar nela quando as pesquisas de opinião pública, já às vésperas das eleições, o apontam como provável vitorioso nas eleições. Isso tudo cheira a manobra de desespero. Atos tardios de quem esperou demais e hoje tenta agarrar-se a uma tábua de salvação que já está naufragando com os anseios de voltar ao poder, derrotando o candidato que, tudo indica, logrou aplausos e apoios da maioria dos brasileiros. Seria de não tomar conhecimento do que vem acontecendo, não estivessem envolvidos nomes como o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, e o próprio principal candidato oposicionista, Geraldo Alckmin. Todos baseados em parecer do Tribunal de Contas da União, que considerou ilegal antigo ato do governo Lula, perpetrado por sua Secretaria de Comunicação Social, que mandou confeccionar propaganda para o PT com dinheiro do povo. Como se isso tivesse acontecido hoje ou ontem. E fosse alguma novidade capaz de mudar os rumos atuais da política.

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A estrutura jurídico-legal de um país, encimada pela Constituição, é uma construção imperfeita que procura manter em pé as nações politicamente organizadas. Há julgamentos legais e políticos e, muito embora se espere que os políticos também sejam legais, a nossa prática é que pecados eleitorais de grupos que detêm o poder sejam esquecidos, relegados a um segundo plano ou mesmo negligenciados, pois estratificou-se entre nós a idéia de que vale tudo para o cumprimento de desígnios políticos.

A idéia de impeachment agora cai na opinião pública como ato de desespero. Não vivemos num país onde a lei é efetivamente tomada a sério e vale sempre e para todos. Temos de nos curvar à realidade e esta não só perdoa os culpados que estão por cima, como condena os acusadores retardatários. Se no governo Lula cometeram esse crime do qual surgem suspeitas tão a destempo, por que considerá-las quando ele praticamente já é o bisado presidente? Por que não levaram a sério as manobras da Ordem dos Advogados do Brasil, que, visando também o impeachment, e tempestivamente, foram resfriadas para se transformar em meras recomendações de inconclusivas investigações?

É porque no Brasil não se quer fazer o impeachment de vitoriosos, muito menos quando a vitória já está tão próxima. E inexistem nos meios políticos, inclusive e principalmente nas oposições, senso de responsabilidade e coragem suficientes para fazer valer a lei. O episódio dos ensaios de impeachment de Lula nesta hora não fazem mais do que desmoralizar a oposição, pois não são capazes sequer de arranhar o presidente quase reeleito. Nem têm o condão de conquistar para o Brasil o título já perdido ou nunca alcançado de país sério.

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Temos, mais uma vez, ruborizados, de voltar a lembrar o que um dia disse de nós, com petulância insuportável, mas nem por isto sem razão, o presidente francês Charles De Gaulle: que este não é um país sério. Se fosse, quando há motivos para impeachment de um presidente, se desencadeia processo, não importam atenuantes políticas ou prestígio eleitoral. Se tais condições inexistem, calam-se as bocas maledicentes, pois vésperas de eleições não são hora de levantar fuxicos como se fossem coisas tão sérias a ponto de mudar o rumo do pleito mais importante do país: a escolha do seu presidente.