Impacto do preço alto

A alta de preços dos alimentos no mercado interno, o suplício que novamente apavora as donas de casa nos supermercados e feiras livres, deverá continuar por tempo indeterminado segundo os prognósticos dos dirigentes da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). A entidade, todavia, tem o cuidado de ressaltar que até o presente momento os produtores repassaram para o consumidor final uma porcentagem bastante diminuta dos custos de produção, visando contribuir para que a marcha da inflação seja controlada.

Os diretores da CNA estão preocupados com as constantes elevações dos preços dos insumos agrícolas, acenando com a desagradável notícia de que os agricultores serão obrigados a gastar mais para produzir alimentos, tornando inevitável o aumento dos preços na ponta do consumo. Para Ricardo Cotta, superintendente técnico da CNA, ?o produtor não consegue mais produzir pelos custos antigos, e a população vai sentir os impactos?. A percepção do retorno da alta de preços dos alimentos é flagrante nas gôndolas das principais cadeias de varejo e nas bancas dos feirantes, gerando as primeiras reclamações dos consumidores que imaginavam ser o fenômeno da carestia uma página virada em nossa crônica diária.

O vislumbre de uma situação aziaga que pode piorar está pressionando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a fazer repetidos pronunciamentos dentro do escopo de tranqüilizar a população. As autoridades reconhecem que a vitalidade até aqui exibida pelo processo inflacionário não é apenas suposição, embora assegurem que o governo possui os instrumentos e a experiência para desencadear um combate sem tréguas à corrosão do poder de compra da moeda, afinal, uma conquista social que não será entregue sem pertinaz resistência.

A inflação está sentindo de perto o impacto da alta de preços da carne bovina, feijão e arroz, componentes indispensáveis na dieta básica da maioria absoluta das famílias brasileiras. Os representantes classistas do setor agropecuário enfatizam que ninguém deve contar com uma queda dos preços dos itens citados, a não ser no médio prazo.

Mesmo assim, o ministro Guido Mantega tem ratificado que o sobressalto causado pela inflação dos alimentos está praticamente sob controle. Dentre as medidas que o governo já tomou para conter o ímpeto inflacionário, o ministro adiantou que no final desse mês será anunciado um grande pacote de incentivos oficiais à produção de alimentos. O Ministério da Agricultura e Abastecimento e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão unidos num amplo programa de estímulo à atividade produtiva de pequenos agricultores por meio do financiamento previsto de R$ 6 bilhões para a compra de máquinas e equipamentos agrícolas, adoção de tecnologia e ampliação dos serviços de assistência técnica rural.

Uma providência já adotada pelo governo na linha da contenção dos preços da comida foi a definição do preço mínimo de R$ 90 para a saca do feijão, uma das primeiras novidades do Plano de Safras 2008/2009, a ser tornado público no início de julho. O governo pretende ainda investir cerca de R$ 1 bilhão na recuperação de pastagens degradadas, provavelmente com a destinação dessas áreas à produção agrícola. Na verdade, o feijão tem um peso acentuado na composição dos índices da inflação e este é um aspecto que preocupa a Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, cujo levantamento mais recente mostrou que foi de 0,42 ponto percentual a contribuição do feijão nos 5,58 pontos do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no acumulado dos últimos 12 meses.

De acordo com o ministro da Agricultura e Abastecimento, Reinhold Stephanes, o governo sinalizou mediante o preço mínimo do feijão a disposição de evitar a grande variação das quantidades produzidas e, dessa forma, a variação dos preços do produto. 

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