Apesar do discurso do governo de que a alta do real é um "bom problema", não há consenso nem mesmo entre economistas liberais quanto ao efeito que um câmbio mais valorizado terá sobre o crescimento da economia. De um lado, especialistas como Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC), enfatizam que a valorização do real estimula os investimentos, via maior importação de máquinas, e é um fator positivo para o crescimento. De outro, a economista Eliana Cardoso, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, alerta que o câmbio muito valorizado pode ser prejudicial ao crescimento da produtividade, e frear a expansão do Produto Interno Bruto (PIB).
Essa oposição de idéias tem um sabor irônico, já que, em outro assuntos, a posição dos dois economistas costuma ser muito parecida – ambos são ferrenhos defensores da economia de mercado e críticos do dirigismo. Definitivamente, não estão entre os simpatizantes históricos do PT. Ainda assim, a análise de Pastore sobre o a alta do real deve soar como música para o governo.
"O fato de o dólar ter caído abaixo de R$ 2 não é o prenúncio de crise ou desgraça nacional, mas sim uma volta a mais num círculo virtuoso que está se instalando, que permite que o Brasil sustente uma taxa de crescimento permanentemente mais alta do que a do passado", disse o economista, antes da sua apresentação no 19º Fórum Nacional, no Rio. Para Pastore, a valorização do real deriva tanto do saldo comercial, que vem sendo beneficiado pela alta dos produtos exportados pelo Brasil e deve atingir US$ 45 bilhões este ano, quanto pelos fluxos de capital externo para aplicações em renda fixa e em ações no Brasil.
Eliana, em entrevista por telefone, mostrou-se mais cautelosa sobre a valorização do real. Ela explicou que o fator mais importante para o crescimento é o aumento da produtividade, e que o setor onde ela mais cresce é justamente o exportado. "Se o câmbio começa a expulsar empresas do setor exportador, há o risco de se perder em produtividade", disse a economista. Ela citou dados que mostram que, em 2005 e 2006, 1.793 empresa brasileiras deixaram de exportar. Segundo Eliana, trabalhos do atual economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Simon Johnson, indicaram que um câmbio desvalorizado está firmemente correlacionado com maior crescimento econômico.