Neste começo de pontificado, todos buscam traçar o perfil do papa Bento XVI. Ele substituiu o carismático João Paulo II e este, embora também não italiano como seu sucessor, comandou a Igreja Católica Apostólica Romana por quase 27 anos, fazendo com que o mundo, e principalmente a Itália, o abrigassem como um dos papas não estrangeiros que por séculos comandaram mais de um bilhão de cristãos.
A análise do comportamento pretérito de Bento XVI fez, de início, temer um papa conservador e dirigente do organismo da igreja que sucedeu o Tribunal da Inquisição. Ele poderia ser de difícil diálogo e não seria facilmente aceito pela comunidade cristã e religiosa do mundo. O contrário vem acontecendo. Bento XVI desde o início demonstrou que está disposto a capitular de alguns dos dogmas que sempre defendeu, para procurar um diálogo entre os povos e com outras religiões. Mostrou-se mais maleável do que o imaginaram.
Não há por que destacar da primeira fala papal seus apelos pela paz entre os povos, preocupações com a pobreza no mundo e até mesmo pela miséria sofrida em um país africano. Era de se esperar que, como chefe supremo da igreja, esses temas figurassem no seu ideário.
O que se destacou e merece meditação é a ênfase que deu ao emprego. E empregos que reclamou especialmente para os jovens de todo o mundo.
Certamente o tema não foi uma escolha ocasional, mas a distinção entre tantos problemas da humanidade de um que aflige a maioria dos povos. Principalmente o desemprego dos jovens.
Por que dos jovens? Há tantos pais de família sem o ganha-pão para si e os seus. Há tanta gente passando necessidades por não dispor de um soldo mínimo para a sobrevivência. Por que, então, o papa Bento XVI enfatiza a necessidade de dar emprego aos jovens? É porque ele sabe que os descaminhos hoje percorridos pelas populações das grandes cidades, como a criminalidade, o tráfico e uso de drogas e o desprezo por valores morais que por sucessão vinham sendo transmitidos de geração para geração, resultam do fato de que a juventude sem trabalho vê-se alijada dos bens e responsabilidades do mundo moderno.
A atenção especial para os jovens é passo essencial para resolver e até evitar outros males que atingem a humanidade, e que nascem e crescem em razão de que os moços, nos dias de hoje, muitas vezes figuram entre os excluídos, desassistidos, revoltados e empurrados para a marginalidade, que é uma doença que poderá acompanhá-los vida afora.
O papa, mais uma vez, ao apelar pelos jovens excluídos, sedimentou a confiança que o mundo nele está depositando.