Não parece ser produto da crise política, mas o governo federal ainda não liberou os R$ 3 bilhões que prometeu aos produtores rurais que estiveram em Brasília, no final de junho, onde desfilaram com seus tratores pela Esplanada dos Ministérios. Nem o prestígio do ministro Roberto Rodrigues, homem do cooperativismo internacional e fiador do agronegócio, foi suficiente para convencer o czar da economia a abrir o cofre.
Os recursos seriam aplicados em regime de emergência para diminuir os efeitos da crise agravada pela forte estiagem nas principais regiões de produção (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Oeste da Bahia), onde grande parcela dos agricultores entrou em situação de penúria.
Em outubro de 2004, a estimativa do governo para a safra era de 132 milhões de toneladas, mas o número caiu para 112 milhões em função da quebra acentuada na produção de soja, milho e algodão, especialmente.
A próxima safra que começa a ser plantada em meados de setembro, por toda a gama de problemas que afeta a produção agrícola, não antecipa prognóstico satisfatório, tendo em vista o fator relevante da contínua alta dos custos de produção. Endividados desde a safra anterior, os produtores tiveram prejuízo não apenas com as intempéries, mas também com a queda do dólar médio das exportações.
Segundo revelou o ministro Roberto Rodrigues, pode-se calcular por baixo que a agricultura de exportação tenha deixado de faturar uns R$ 10 bilhões, e isso é muito dinheiro.
A liberação dos R$ 3 bilhões assegurada pelo presidente Lula – recursos do FAT – prorrogaria as parcelas da dívida de custeio referentes a julho e agosto para março e abril de 2006, favorecendo os produtores de algodão, soja, milho, trigo e arroz. Até esse momento o dinheiro não foi liberado.
Fontes do setor reiteram que será impossível para o produtor, com recursos próprios, manter os níveis de produtividade diante dos altos preços da tecnologia e das máquinas agrícolas.
Os ciclos agrícolas no Brasil têm alternado brilhantes e sofríveis desempenhos, sendo estes socorridos pelo mecanismo do seguro rural. Apesar das inúmeras promessas feitas durante as campanhas para a presidência, por enquanto, o seguro agrícola continua sendo um ilustre desconhecido.