Quanto mais se aproxima de Brasília, isto é, da possibilidade de tornar-se o ungido nas próximas eleições, o candidato Lula da Silva baixa a voz, pensa antes de falar e, quando fala, diz coisas parecidas com o que dizem todos os que ocupam o Poder. Uma de suas máximas ultimamente pronunciadas foi dirigida aos aposentados brasileiros reivindicantes e carentes: “A esta altura da vida, com 56 anos e fazendo 57 neste ano, não quero vender ilusões”, disse ele, ao descartar a hipótese de um substancial aumento no salário mínimo. Os aposentados estavam pedindo apenas um mínimo de R$ 350, equivalente a mais ou menos 130 dólares americanos – uma bagatela.
Na mesma oportunidade, o pentacandidato falou sério e prometeu: se eleito, pretende fazer seis reformas. A tributária, a sindical, a trabalhista, a política, a agrária e a previdenciária. Não necessariamente na ordem citada. As reformas, segundo garante, são essenciais para a economia crescer. O Brasil precisa distribuir renda, exportar mais que importar e, de uma vez por todas, acabar com os impostos em cascata que prejudicam a cadeia de produção. Num governo de Lula, severo será o combate à eterna sonegação. Enquanto o candidato promete, nos arredores dos palanques em que sobe Lula, seus assessores já montam a equipe do alto comando. Para o Banco Central, por exemplo, iria João Sayad, que já foi ministro da República. Guido Manteiga, o assessor econômico do candidato, garante que haverá autonomia do Banco Central, hoje dependente das ordens do ministro da Fazenda. Lula, de certa forma, concorda: “Se o BC treme, o dinheiro pode ir embora”.
Experiente como ninguém na arte de fazer campanha – afinal, esta é a quarta somente para presidente da República – Lula está conseguindo roubar o discurso dos demais colegas em sua nova estratégia eleitoral. Seis reformas (e, entre outras, ele esqueceu a do Judiciário) num só governo é quase um furacão. Por muito menos, FHC recuou, mesmo depois de reconduzido pelas promessas do real. E Fernando Henrique Cardoso não tinha o compromisso que Lula tem com o funcionalismo público – o grande calcanhar de Aquiles da reforma da Previdência – onde privilégios são confundidos com direitos.
Assim, a reforma previdenciária de Lula já vem com sombras carregadas no horizonte. Deixemos também a reforma agrária de lado, que desta se ocupará a seu tempo o MST que Lula hoje esquece, o mesmo ocorrendo com a reforma sindical e trabalhista, área em que o candidato se presume doutor pelo caminho de longa militância sindical. Descartemos igualmente, por enquanto, a reforma política, já que essa será inevitavelmente ditada pelas conveniências – para não falar em casuísmo – criadas dentro de um novo quadro nacional. Fixemo-nos, por enquanto, somente na reforma tributária – em nosso entender, a base para todas as demais.
Essa também prometeu FHC por duas vezes. Em vez da reforma, tivemos o arrocho sem precedentes, do qual a CPMF é símbolo e que, nos últimos tempos, foi defendida pelo candidato de oposição que em muitas matérias já elogia o governo. Para não alimentar ilusões, como afirma, Lula precisa dizer ao País que tipo de reformas imagina realizar.