O feroz ataque de Israel contra o Líbano foi planejado com antecedência a fim de provocar cisão entre as diferentes seitas que vivem em harmonia no país, e a ação do Hezbollah foi apenas uma desculpa para o lançamento da operação, denunciou nesta quarta-feira (16) uma delegação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) depois de retornar de uma visita a Beirute e Jerusalém. "Voltamos do Líbano compartilhando a impressão de que essa destruição foi planejada. E se a ação do Hezbollah foi o gatilho, essa era uma operação planejada pronta para ser lançada", afirmou Jean-Arnold de Clermont, presidente da Conferência de Igrejas Européias.
"Todos os representantes de diversas comunidades do Líbano com os quais nos encontramos concordaram que a destruição foi tanto deliberada quanto planejada", afirmou num comunicado a Aliança Mundial das Igrejas Reformadas. A aliança foi uma das patrocinadoras do envio da delegação pelo conselho.
De Clermont, um pastor aposentado da Igreja Reformada da França, integrou a delegação de três membros junto com um protestante e um católico romano que se reuniu com líderes religiosos e autoridades libanesas e palestinas. Eles lamentaram não ter sido recebidos pelo governo israelense, mas se encontraram com um dos dois rabinos-chefe de Israel, Yonah Metzger. O trio visitou em cinco dias o Líbano, Israel e os territórios palestinos.
De Clermont, numa entrevista coletiva na sede do conselho ao lado dos dois outros participantes da viagem, disse que Israel não quer a existência de um Líbano democrático onde judeus, cristãos e muçulmanos vivam em paz porque o Estado judeu não quer ver seu vizinho sendo bem sucedido naquilo que Israel tem tentado sem sucesso alcançar. O Hezbollah, para De Clermont, foi apenas um bode expiatório. "É o conflito israelense-palestino e não o papel e ações do Hezbollah que está no centro da atual crise", estimou a aliança no comunicado.
"Todos os líderes religiosos em Israel e na Palestina, assim como (o presidente palestino) Mahmoud Abbas, nos disseram que chegou o momento de todos aceitarem negociar com todos", afirmou De Clermont, acrescentando ser necessário "desmilitarizar o pensamento" dos líderes políticos.
O Conselho Mundial de Igrejas congrega mais de 340 igrejas e denominações protestantes, ortodoxas, anglicanas e outras e desenvolve trabalhos conjuntos com a Igreja católica. O conselho representa mais de 400 milhões de fiéis presentes em mais de 120 países.