Pela quinta vez consecutiva o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) registrou queda. O resultado foi de -0,53% em setembro, ante -0,65% em agosto. Segundo informou ontem a Fundação Getúlio Vargas (FGV), esse é o período mais intenso de deflação na história do indicador, calculado desde 1989.
O IGP-M acumula taxas de 0,21% no ano e de 2,17% em 12 meses até setembro. Para o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, com o resultado de setembro, o IGP-M de 2005 pode se tornar a menor taxa anual da história do indicador, cujo menor resultado é o 1998, com 1,78%. O economista descartou porém, a possibilidade de uma sexta deflação mensal consecutiva.
"Mas isso vai depender do comportamento dos preços das matérias-primas agropecuárias, se vão continuar caindo", acrescentou.
O aumento nos preços dos combustíveis e a queda mais fraca nos preços do aço no atacado, aliado à menor influência da valorização cambial na inflação, levou à perda de fôlego na despencada de preços, de agosto para setembro. Mas, a intensa queda nos produtos agrícolas no atacado (-3,50%), e a deflação no varejo, garantiram a continuidade de taxa negativa no indicador.
Ao ser questionado sobre a influência de um período prolongado de deflação na decisão do Banco Central (BC) de reduzir ou não os juros, Quadros respondeu, bem-humorado: "Taxa de inflação baixa é boa notícia, é música para qualquer ‘banqueiro central’".
Tanto o BC quanto o consumidor sentirão os efeitos desse período longo de queda de preços. Como alguns preços administrados, como contratos de aluguel e de energia, usam o IGP-M como indexador de reajustes, os reajustes nos preços administrados serão menores, o que beneficiará o consumidor e os resultados de inflação no varejo – analisados pelo BC na hora de decidir por corte ou não de juros.
Para o economista do Instituto Fecomércio, João Carlos Gomes, os preços administrados em 2006 "devem subir aproximadamente metade do registrado esse ano", graças às taxas de inflação baixas registradas este ano.
O IGP-M divulgado, nesta quinta-feira, acompanha os preços de 21 de agosto a 20 de setembro, que caíram 0,76% no atacado, ante -0 88% em agosto. A deflação mais fraca foi influenciada pela aceleração dos preços industriais, impactados por alta nos preços de combustíveis e lubrificantes (de -0,13% para +2,12%) e queda menos intensa nos preços de ferro, aço e derivados (-2,76% para -1,08%).
No caso dos combustíveis, houve o aumento nos preços de gasolina e diesel, em vigor desde 10 de setembro. Porém, no caso do aço, o motivo é outro. Salomão Quadros lembrou que, há algum tempo vem perdento forma o impacto benéfico da valorização cambial na inflação. Isso pode ter contribuído para diminuir o ritmo de deflação no setor siderúrgico.
Em contrapartida, a FGV detectou no atacado deflação em vários produtos agrícolas, cujos preços deveriam estar subindo, devido ao atual período de entressafra. É o caso de bovinos (-3 23%); café (-4,32%) e soja (-5,32%).
No varejo, os preços caíram 0,17% em setembro, ante -0 32% em agosto. De acordo com o economista da FGV André Braz, as elevações de preços da gasolina (2,28%) e taxa de água e esgoto residencial (4,73%) levaram à deflação menor. "A intensificação na queda dos preços dos alimentos (de -1,34% para -1,37%) de agosto para setembro foi um dos fatores que levaram à nova deflação no varejo", disse Braz.
Já os preços da construção civil passaram de 0,05% em agosto para 0,06% em setembro, devido ao aumento nos preços de materiais e serviços (de 0,09% para 0,10%) de agosto para setembro.
