O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) foi de 3,87% em outubro, a terceira maior taxa da era do Real. O recorde anterior, de julho de 1994, era de 40%, porcentual contaminado, contudo, por resíduos do período anterior ao plano econômico, lançado no dia 1.º daquele mês, assim como os 7,56% registrados em agosto de 1994. O vilão da inflação recorde foi a variação cambial, que fez os preços subirem 5,62% no atacado. No varejo, com o repasse ainda pequeno do dólar, a inflação foi de apenas 0,91%.
?A inflação ainda não chegou tanto aos produtos finais no atacado. Foi mais forte nas matérias-primas brutas e intermediárias. Os produtos mais próximos ao consumidor estão aumentando menos. Por isso, não é iminente que haja um descontrole dentro do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)?, afirmou o coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, explicando que a evolução da inflação vai depender da variação do câmbio nas próximas semanas.
Quadros informou que houve aumentos no atacado acima do mês anterior em quase 90% dos grupos pesquisados. No caso das matérias-primas brutas, o aumento foi de 8,46%. Já nas matérias semi-elaboradas, de 5,37%. Na alimentação, a variação de preços no atacado foi de 6,70% e nos bens duráveis, de 2,81%. ?Estamos vendo a inflação se acelerar de maneira geral no atacado e o vilão basicamente é o dólar?, comentou Salomão.
Por produtos, as maiores contribuições para a inflação no atacado foram: soja (aumento de 17,15%), trigo (31,78%), milho (19%) e óleos combustíveis (15,95%). Houve repasses significativos no caso do óleo de soja, que subiu 8,39% no atacado e 10,19% no varejo. Como a soja subiu no atacado ainda mais, é possível que ocorram novos aumentos no óleo para o varejo, comentou Quadros. Apesar deste exemplo, os repasses ao consumidor não estão ocorrendo de forma tão intensa quanto no atacado, o que para o economista é um ?fato importante?.
Isso, na sua avaliação, deve-se ao fato que as pressões no atacado ainda estão mais ligadas às matérias-primas do que aos produtos finais, ao desaquecimento econômico que dificulta o reajuste de preços e até mesmo ao grau de dificuldade que os varejistas estariam encontrando para implementar aumentos. Enquanto a farinha de trigo já subiu 66,07% no atacado este ano, o pão francês, que utiliza a farinha, subiu 22% de janeiro a outubro.
As empresas tem a mesma percepção. O presidente do Grupo Unipar, Roberto Dias Garcia, disse que há um descasamento entre os preços dolarizados da matéria-prima do setor petroquímico, a nafta, e os produtos vendidos ao mercado. Com a baixa atividade econômica, e uma oferta relativamente excedente, a impossibilidade de repasse dos custos dolarizados obriga a redução das margens. ?O preço da matéria-prima é uma coisa. A do produto é outra, é quanto o mercado paga?, disse o executivo.
Com o resultado de outubro, o IGP-M já acumula alta de 14,82% este ano. Já nos últimos doze meses a taxa está em 16 34%. A taxa de outubro foi 1,47 ponto porcentual superior a de setembro (2,40%). No mês passado, ainda, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) fechou em 0,82%. Para novembro, o coordenador da FGV preferiu não fazer projeções. ?Não posso afirmar se haverá novas altas para o consumidor?, disse. ?Se o dólar não mudar de patamar a tendência é que todos os índices de inflação (incluindo o atacado) venham a se acelerar?, explicou.