A deflação retomou fôlego na primeira prévia de agosto do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), cuja taxa caiu 0,36%, ante queda de 0,09% em igual prévia de julho. Abaixo das estimativas do mercado financeiro, o resultado foi o menor desde junho de 2003, e também a quarta queda consecutiva nesse tipo de indicador.
Segundo informou hoje (10) a Fundação Getúlio Vargas (FGV), taxas negativas, no atacado, em preços da soja (-0,25%); dos bovinos (-1,23%); e do milho (-0 78%) puxaram para baixo a inflação. O cenário também foi beneficiado pela valorização cambial – que reduziu os preços de produtos relacionados ao dólar -, e por deflações no varejo e na construção civil.
A queda no indicador, cujo período de coleta de preços foi de 21 a 30 de julho, fortaleceu a possibilidade de uma quarta deflação consecutiva no IGP-M fechado de agosto, na avaliação do coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.
"A possibilidade era remota. Mas agora, com esse resultado, a possibilidade deixou de ser remota", disse. O economista observou ainda que, se houver nova queda no IGP-M, esse fator não será indicativo de recessão. Isso porque há outros indicadores macroeconômicos que não demonstram sinais recessivos – como os bons resultados da produção industrial.
O economista admitiu ainda que a deflação é mais um fator positivo para ser analisado pela próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central que decidirá pela manutenção ou não da taxa básica de juros (selic) em 19,75%. "Realmente, a inflação está em uma situação confortável", disse.
Ao comentar sobre a primeira prévia de agosto, Quadros informou que o Índice de Preços por Atacado (IPA), de maior peso no IGP-M, caiu 0,48%, ante queda de 0,23% em igual período em julho. Esse cenário deve-se basicamente à queda nos preços das matérias-primas brutas (-0,77%) que influenciou fortemente o recuo nos preços dos produtos agrícolas (-1,18%).
A redução forte de preços no setor agrícola é surpreendente, visto que vários produtos, atualmente em entressafra, deveriam estar com inflação intensa – visto que o período prejudica a oferta dos itens no mercado.
"A soja, por exemplo, está em entressafra, e deveria estar subindo. Mas está sendo beneficiada pelo câmbio", afirmou, não descartando que o mesmo esteja ocorrendo com o milho. Quanto ao preço das carnes, o técnico considerou apenas que o setor está com muita oferta, o que derruba os preços.
Outro fator que contribuiu para a inflação menor no atacado foi a deflação nos produtos industriais (-0,25%), beneficiado pelo câmbio e pelo setor de Ferro, Aço e Derivados (-1,7%), que está trabalhando com alto nível de estoques – o que reduz a média de preços no mercado.
No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) teve deflação de 0,16% em agosto, ante aumento de 0,02% na primeira prévia de julho, principalmente devido à menor variação de preços em Habitação (de 0,47% para 0,12%). O recuo no preço do gás de botijão (-1,10%) foi determinante para o resultado. Isso porque o impacto do reajuste de telefonia fixa (2,44%) foi parcialmente compensado pelo recuo de tarifa de eletricidade residencial (-1,07%).
"Mas energia elétrica não seria suficiente para conter integralmente a influência do aumento de telefonia. Nesse cenário, o gás de botijão foi essencial para a menor taxa no grupo Habitação", disse Quadros.
Por fim, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) caiu 0,05% na prévia de agosto, ante elevação de 0,58% em julho. Até a primeira prévia de agosto, o IGP-M acumula altas de 1,04% no ano e de 3,74% em 12 meses.
