Pelo quarto mês seguido, os preços deixaram de subir na inflação medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10). O indicador despencou em agosto, com taxa negativa de 0,52%, ante queda de 0,37% em julho.
Abaixo das previsões de mercado, a taxa foi a menor em mais de dois anos e a terceira deflação consecutiva – em maio desse ano, os preços ficaram estáveis. A queda de preços em commodities de peso no atacado, como soja (- 1,7%); café em coco (-7,59%) e bovinos (-1,64%); e as liquidações nas lojas foram decisivos para o recuo, segundo informou hoje (15) a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, admitiu que o desempenho do indicador – que abrange o período de 11 de julho a 10 de agosto – "favorece a decisão de reduzir juros" em algum momento. Mas não quis arriscar previsões específicas de manutenção ou não da taxa básica de juros (selic) em 19,75%, na próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom).
Ao ser questionado sobre a análise de alguns técnicos que apostam em permanência no patamar da Selic, tendo em vista o agravamento da atual crise política, o economista considerou que qualquer sinal de "incerteza" se traduz em manutenção ou alta de juros.
Quadros avaliou que esse cenário não é procedente. Ele lembrou os bons resultados de captação externa, em condições melhores, que o Brasil vem registrando nos últimos tempos, e avaliou que, se os investidores estrangeiros estão com visão positiva em relação ao País, os sinais de incerteza não podem ser tão fortes assim.
As sucessivas deflações também não podem ser consideradas como sinal de recessão, na avaliação de Quadros, tendo em vista os bons resultados em outros indicadores macreconômicos – como o bom desempenho da produção industrial no primeiro semestre.
Em agosto, o Índice de Preços por Atacado -10 (IPA-10), de maior peso na formação do IGP-10, caiu 0,78%, ante queda de 0 64% em julho – influenciado pelas quedas dos preços dos produtos agrícolas (-1,56%) e industriais (-0,52%). Na avaliação do economista, as causas da queda de preços em agosto são diferentes das que levaram às deflações nos meses anteriores.
"A deflação já vem se dando há algum tempo e ela era basicamente explicada pela queda do dólar, dentro de uma economia tendendo um pouco ao desaquecimento. Esses fatores estão perdendo a importância, e embora o dólar tenha caído mais um pouco, a queda dele é cada vez menor, e influencia cada vez menos a deflação no atacado", disse.
"A explicação agora se desloca para as matérias-primas agropecuárias ", complementou. O técnico explicou que produtos como soja, café e bovinos, em um período historicamente conhecido como de entressafra, estão atualmente com boa oferta inesperada de itens no mercado – o que derrubou seus preços.
Outro fator que contribuiu para a manutenção de queda de preços no atacado foi a deflação ainda existente nos preços dos combustíveis e lubrificantes (-0,05%). Mas o economista da FGV não descartou reversão desse quadro no futuro, tendo em vista a atual disparada nos preços do petróleo, no mercado internacional.
No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor -10 (IPC-10) intensificou deflação, e passou de -0,04% para -0,07%, devido ao recuo nos preços de Vestuário (de + 0,66% para -1,44%). Os preços desse grupo têm sido beneficiados pela época de promoções nas lojas relacionadas às liquidações da coleção Outono/Inverno.
Já o Índice Nacional do Custo da Construção -10 (INCC-10) passou de 0,64% em julho para 0,09% em agosto. O IGP-10 acumula elevações de 1,27% no ano e de 4,42% em 12 meses.
