A possibilidade de haver erro de entendimento do inglês falado entre o piloto do Legacy e o controlador de vôo de Brasília, que possa ter se transformado em um forte fator contribuinte para o choque com o Boeing da Gol, está sendo examinada pela comissão de investigação da Aeronáutica que analisa as causas do acidente. Hoje, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, disse que pode ter havido erro de interpretação, lembrando que "algumas tragédias no mundo já aconteceram por conta de idioma".
Ele fez questão de ressaltar, contudo, que "um acidente nunca é fruto de um só erro, é um somatório de erros". Para o brigadeiro José Carlos, mesmo que tenha havido erro de entendimento do inglês entre piloto e controle, o comandante da aeronave deveria ter questionado os controladores porque ele é o responsável pelo vôo e não pode ignorar o plano de vôo pré-determinado.
"Neste caso específico do vôo 1907, pode ter ocorrido erro dos pilotos do Legacy, falha do controle de vôo, falha de regras, pode ter acontecido interpretação errada de uma palavra talvez, e, por isso temos de esperar o resultado das investigações", disse o brigadeiro. "Quando os erros começam a aparecer, começam a se somar, ninguém percebe e corta o erro logo, na raiz, chega a um ponto que o acidente é irreversível", prosseguiu.
Para ele, confundir a expressão "vigilância radar" com "vetoração radar", embora considere "inaceitável" em se tratando de um piloto internacional, que é qualificado para voar em qualquer país do mundo, "até pode acontecer". Mas avisou que isso não isenta o comandante do avião da responsabilidade na navegação porque está claro que o piloto do Legacy entrou na contra mão de uma aerovia. "É como andar na contra mão em uma estrada, a regra, que está escrita na carta que orienta o vôo, é única, no mundo inteiro", observou.
Investigação
As fitas das conversas entre os controladores de vôo e os pilotos do Legacy estão sendo passadas, repassadas e repetidas várias vezes pelos responsáveis por esta etapa da investigação. Eles querem saber, nesta minuciosa análise, se pode ter havido algum "entendimento errôneo", de um lado ou de outro, na última conversa entre os dois, antes de o Legacy chegar a Brasília, de acordo com fontes da Aeronáutica. Um dos objetivos é descobrir se algum dos termos usados no diálogo pode ter dado margem ao piloto do Legacy entender de que ele poderia manter a altitude de 37 mil pés que ele estava, mesmo depois de passar por Brasília, embora sempre ressaltem que isto contraria uma regra básica, que deveria ter sido observada pelo piloto, que tinha obrigação de ter conhecimento do plano de vôo e do trajeto que percorreria. A partir de Brasília, o Legacy deveria descer para 36 mil pés.
Pontos Cegos
O ministro da Defesa, Waldir Pires, voltou a dizer que não há pontos cegos de comunicação e acompanhamento radar em qualquer parte do País, nem mesmo na Amazônia, que tenham impedido a fala entre os controladores e os pilotos do Legacy. "Não há pontos cegos porque as áreas que os radares abrangem têm até superposição e duplicidade de presenças de controle de terra", declarou o ministro.
Pires comentou que, dependendo do resultado das investigações, se houver algum indício de que a distância de um mil pés estabelecido por regras internacionais pode ter contribuído para a ocorrência da tragédia, o Brasil pode sugerir mudanças nesta regra. "Eu, como leigo, acho que este assunto de distância entre os vôos, deveria ser rediscutido", declarou o ministro.
