A palavra do título deste artigo é, evidentemente, uma conjunção forçada entre ideologia e idiotice. Mas cabe para identificar um insumo que muito funciona, embora camuflado, nesta campanha. O uso e abuso de vezos ideológicos que se afirmava estarem mortos e enterrados. Objetivo: tanger o eleitorado para um lado ou para o outro.

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Em pesquisa realizada no início da campanha para renovação ou repetição da Presidência da República, a maioria do eleitorado se disse de direita e optante pela reeleição de Lula, tido, havido e proclamado candidato de esquerda. A interpretação primeira e mais lógica foi a de que os eleitores consultados não sabiam muito bem o que era direita, centro ou esquerda. Marchavam para as urnas como inexperientes recrutas, trocando os passos e, nas ?meias-voltas, volver?, encenando com menor talento as trapalhadas que já vimos no cinema, com Chaplin, ou na televisão, com Chaves.

Ideal seria que tal opção significasse a capacidade do eleitorado de identificar a gestão Lula como o governo que foi. Menos de esquerda. A política econômica e fiscal usada, com a formação de estofados superávits primários para pagar ou rolar a dívida externa, é cópia fiel da praticada pelo governo anterior, apelidado de neoliberal como xingação, ou de direita, para gravar-lhe uma pinta na testa.

Temos memória curta e poucos irão se lembrar que nos tempos da ditadura militar, aquela sim de direita, Fernando Henrique, José Serra, Lula, José Genoino e outros que hoje se engalfinham e se apropriam de territórios à direita ou à esquerda, conforme as conveniências eleitorais, estavam do mesmo lado. E do lado oposto ao dos governos militares, tanto é que Lula esteve preso, verdade que por pouquíssimo tempo, enquanto FHC e Serra foram exilados.

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O fenômeno do surgimento dos governos populistas na Venezuela, Argentina, Uruguai, Equador, Bolívia e por aí afora lembrou ao governo Lula que não era de bom tom abandonar o uniforme de esquerda. Foi então que o socialismo, o afastamento do Fundo Monetário Internacional e políticas externas de aproximação com países em desenvolvimento fora dos blocos tradicionais dos EUA e da Europa passaram a ser mais convenientes. E viraram moda.

No primeiro, e oxalá não seja o último, debate em que Lula e Alckmin se enfrentaram na televisão, o assunto privatizações, que está nas entranhas do debate ideológico, voltou a aparecer. E apareceu também na boataria de campanha, para roubar votos de quem pudesse estar a favor desse processo em que empresas de governo são transformadas, correta ou incorretamente, com licitações lícitas ou malandragens ilícitas, de públicas em particulares. No final do primeiro governo FHC e em seu segundo mandato, as privatizações, mesmo ouvindo-se o alarido de uma minoria de extrema esquerda postando-se contra, eram aceitas quase que por unanimidade. Por tantos anos o governo brasileiro bancara empresário e se dera tão mal que pouca gente se aventurava em questionar as privatizações, processos de transferência de propriedade de empresas que até a comunista China vem praticando.

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Mas uma coisa está provada: as privatizações viraram sinônimo de alienação de bens públicos em grossas maracutaias e as estatizações em remédio milagroso para os problemas nacionais, muito embora o tenhamos experimentado, gota a gota, como medicamento homeopático, durante séculos, com os piores resultados. Agora, parece certo que a ?ideotologia? pode determinar os resultados destas eleições. A direita votando na esquerda e esta na direita, numa troca de posições e programas que pode estar anunciando a volta das falecidas ideologias.