O papa Bento XVI já está em Roma, mas as repercussões de sua visita de cinco dias ao Brasil deverão se desdobrar por muito tempo. Infelizmente entre os brasileiros se arraigou o hábito do rápido esquecimento de fatos ou declarações de suma importância, cuja ocorrência foi oportunizada por contextos específicos.

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Diante da grandeza simbólica da vinda do sumo pontífice ao Brasil, para, entre outros itens de um intenso roteiro de atividades, celebrar a missa de canonização do primeiro santo nascido na antiga Terra de Santa Cruz – Antônio de Sant? Anna Galvão – e a abertura oficial da 5.ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, haverá de pairar na mente da população católica a multiplicidade das declarações de inegável impacto sobre os aspectos doutrinários ou teológicos, ademais das bem construídas e firmes admoestações pastorais sobre a experimentação cotidiana das virtudes da fé.

Todavia, o maior legado intelectual da primeira visita apostólica de Bento XVI à AL, qualificada pela experiente e ilustrada retórica da Secretaria de Estado do Vaticano, como o ?continente da esperança?, será encontrado nas incisivas declarações sobre os reflexos da política e da economia sobre a vida dos seres humanos.

Com um senso agudo de avaliação, o papa alinhou em sua crítica o marxismo e o capitalismo, reiterando que nenhuma das duas ideologias foi capaz de dar respostas efetivas ao anseio das massas. Nesse sentido, foi lúcido e objetivo ao alertar para o surgimento de governos autoritários na América Latina, mesmo com a omissão de referências nominais aos países em questão.

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O papa não se omitiu, contudo, ao frisar que as formas autoritárias de governo atreladas a ideologias aparentemente superadas e distanciadas da visão cristã da humanidade, constituem motivo de grave preocupação.

Na homilia de abertura da 5.ª Celam, em Aparecida, Bento XVI introduziu uma efetiva chamada aos governantes latino-americanos, assinalando que a liberalização da economia presente em muitos países, deverá ter sintonia com a eqüidade, ?porque continuam a aumentar os setores sociais que se vêem oprimidos cada vez mais por uma enorme pobreza, ou até mesmo saqueados dos próprios bens naturais?. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

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