As operações com a empresa Garanhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações realizadas pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o principal operador do "mensalão", poderão ter sido mais um esquema de lavagem de dinheiro e remessa irregular de divisas ao exterior.
A análise foi feita há pouco pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC), titular da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Mista dos Correios. "Pode ter lavagem de dinheiro porque Marcos Valério já usou desse expediente entre 1998 e 2001, como ficou provado na Operação Beacon Hill, tocada pelo FBI (Federal Bureau of Investigation)", disse, antes de entrar na Biblioteca do Senado, onde, além dela, o líder do PT na Casa e presidente da CPI, Delcídio Amaral (MS), o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), também membro da CPI, estão reunidos com representantes do Banco Rural.
Ideli confirmou que os saques nominais de representantes da Garanhuns Empreendimentos e Intermediações nas contas das empresas de Valério passam a somatória de R$ 6 milhões e, segundo ela, a companhia não possui endereço fixo, assim como não está instalada no local registrado no contrato social (Avenida São Luiz, 258, centro de São Paulo) .
"Se confirmada a operação de lavagem, seria a repetição do uso de uma fórmula já aplicada por Valério", insistiu a senadora do PT de Santa Catarina. Sobre o encontro com os representantes do Rural, Ideli recusou a análise de que divulgações de documentos financeiros sigilosos realizadas pela CPI e as críticas que parlamentares fizeram à instituição financeira poderiam provocar uma "crise sistêmica" do sistema bancário brasileiro.
"Temos de ter toda a preocupação para que a crise política não entre no mercado financeiro e na economia. O Banco Rural eliminaria, porém, muito do ruído do mercado, se mandasse corretamente os documentos solicitados pela CPI e no tempo adequado", manifestou. Como exemplo das falhas do banco, Ideli afirmou que vários papéis encaminhados à CPI foram "desanexados" das cópias de saques das contas das empresas de Valério. Ela criticou, entretanto, os colegas de CPI por exagerarem na propagação de fatos e documentos ainda não completamente investigados, o que, segundo ela, traria prejuízos à imagem de "várias personalidades".
Exemplo disso, afirmou, foi a expectativa gerada por alguns integrantes da comissão em torno dos documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) na agência de Belo Horizonte, remetidos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e que foram encaminhados hoje à CPI. "Os documentos que chegaram do Supremo não trazem nenhuma informação nova e, por isso, é preciso que se tome muito cuidado, que os parlamentares aprendam a trabalhar em cima de documentos e não de hipóteses", opinou.