O coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, admite que o crescimento de 2,9% da produção industrial brasileira no acumulado de janeiro a outubro de 2006 está abaixo da média de países semelhantes, mas ressalta que a indústria vem crescendo de forma contínua. Segundo ele, o fato da média de crescimento estar em menos de 3% resulta de comportamentos bastante heterogêneos entre os setores já que os setores menos sensíveis às importações aumentam a produção, enquanto as exportações crescem mais nos preços e é a quantidade que aumenta a produção. Segundo Sales, os segmentos mais sensíveis às importações são os que mais estão puxando para baixo o desempenho da indústria, como calçados, madeira e confecções.
Ele avalia que a expansão da produção industrial não tem sido mais acelerada em 2006 por causa da concorrência das importações das taxas de juros que, mesmo em queda, permaneceram elevadas ao longo do ano e da taxa de desemprego, que segundo ele também permanece elevada. Por outro lado, ele avalia que a sustentação do ritmo industrial, mesmo que discreto, ao longo de 2006 pode ser atribuída ao desempenho de setores exportadores de commodities; aumento da produção da indústria automobilística alavancado sobretudo pela demanda interna; crescimento da produção de bens de capital e comportamento positivo de ramos mais atrelados à evolução da massa salarial e menos sensíveis às importações.
Automóveis e eletrodomésticos
O crescimento de 12% na produção de bens de consumo duráveis em outubro ante outubro do ano passado foi puxado especialmente por automóveis (13,6%) e eletrodomésticos (10%). No caso dos eletrodomésticos, o destaque foi o crescimento dos produtos da chamada linha branca (20,3%), como geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Por outro lado, na linha marrom (televisores, vídeo e som) houve queda na produção de 3,5% no período, que Sales atribui ao crescimento forte que a venda de TVs teve até a metade do ano, com a Copa do Mundo, e agora pode estar em acomodação e, ainda, à concorrência das importações.
Uma boa notícia no segmento dos duráveis é o crescimento de 6,7% na produção de telefones celulares, após vários meses de queda. "Agora há uma reação após a queda e pode estar relacionada ao fato de que ainda há espaço para expansão e também ao aumento das encomendas de final de ano", disse. Na comparação com setembro, a produção de bens duráveis cresceu 3,2%. Segundo Sales, ainda que não haja um detalhamento por categoria nessa base de comparação, os automóveis, com crescimento de 6,2% na produção em outubro ante setembro – após uma queda de 9% em setembro ante agosto, por causa das greves nas montadoras – deve ter sido uma das principais influências de expansão dos duráveis.