Rio, 04 (AE) – Tradicional amigo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atacou duramente hoje (04) na reunião do Grupo do Rio uma das iniciativas estratégicas da diplomacia brasileira para tentar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU: a intervenção no Haiti. Chávez afirmou que as medidas das Nações Unidas no pequeno país caribenho – onde o Brasil lidera uma força armada internacional de paz que enfrenta crescentes problemas com grupos rebeldes – “repetem esquemas fracassados anteriormente no mundo” e disse que o atual governo local “carece de legitimidade”.
Segundo nota distribuída pelo governo venezuelano, Chávez “pediu aos assistentes da cúpula (os demais presidentes) que revisem os diagnósticos sobre os quais foram tomadas as decisões de intervir no Haiti do modo como isso tem sido feito.” “(A intervenção) É um engodo em que podemos cair sem chegar a resolver o problema”, atacou. O presidente venezuelano pediu ainda que seja convocada e eleita uma Assembléia Nacional Constituinte “para refundar a República do Haiti como caminho fundamental para superar a grave crise que atinge o povo haitiano”.
“O presidente Chávez considerou que ‘o governo que hoje está no Haiti carece de legitimidade por haver sido imposto pelos Estados Unidos: derrubaram o presidente legítimo, Jean-Bertrand Aristide, e o levaram para a África, onde o deixaram como se fosse uma carga'”, diz o texto.
“É necessário dar visibilidade política à república haitiana como maneira de sair da crise. Só o povo haitiano pode refundar sua república. Cremos nas soluções que o mesmo povo haitiano pode oferecer, acima das soluções propostas pelas elites nacionais e internacionais.” Demonstrando preocupação em manter ou conquistar espaço político no pequeno país caribenho e na região, Chávez ofereceu cinco batalhões sociais para “invadir humanitariamente” o Haiti, com médicos, engenheiros, medicamentos, alimentos, água, combustível “e o que faça falta a esse povo irmanado historicamente com a Venezuela”. Enquanto isso, afirmou, poderiam ser desenvolvidas soluções políticas de fundo para o problema. O presidente venezuelano pediu que os demais presidentes se pronunciem sobre a proposição.
O presidente da Venezuela repetiu sua proposta de Constituinte no Haiti numa tumultuada e rápida entrevista coletiva, ao sair à noite do Hotel Sofitel para o jantar oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A reunião foi muito interessante”, declarou, sorridente ao meio do empurra-empurra de repórteres, cinegrafistas, fotógrafos, soldados do Exército brasileiro e seguranças venezuelanos. Ele voltou a criticar o presidente reeleito dos EUA, George W. Bush.
DIVERGÊNCIA – O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que assistiu à reunião, contou à reportagem que Chávez falou após os presidentes do Peru, Alejandro Toledo, e do Chile, Ricardo Lagos. “Tenho uma visão própria, não estou de acordo com a forma como a ONU quer impor governos aos países”, atacou, lançando a proposta da Constituinte. Ele também mencionou uma carta em que a conselheira para Segurança Nacional da Casa Branca, Condolezza Rice, lhe fez ataques. Mesmo com a posição brasileira em xeque, Lula respondeu em tom conciliador. “Olha, Chávez, não se preocupe com essa carta, porque lá falam mal de mim em inglês, e prefiro as coisas boas que falam de mim em português”, afirmou.
O presidente brasileiro contou então que, em seu recente encontro de uma hora e meia com o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, passou meia hora falando “de tudo de bom que Chávez tem feito pelos pobres da Venezuela”. O presidente venezuelano agradeceu. Lula também relatou que amanhã seu assessor Marco Aurélio Garcia viajaria para o Haiti, para conversar com a oposição visando a um arranjo institucional com vistas à realização de eleições. E fez uma revelação surpreendente: disse que enviaria um amigo religioso, cujo nome não revelou, para conversar com Aristide na África do Sul, para tentar um entendimento com todas as forças políticas haitianas. “O Haiti é ingovernável se não houver espírito de cooperação”, disse. Para Suplicy, não houve crítica ao Brasil e tudo acabou bem.
Hugo Chávez critica missão de paz da ONU no Haiti
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