Hospital psiquiátrico humaniza atendimento e pacientes viram jornalistas

A loucura se transforma em esperança uma vez por mês no Hospital Psiquiátrico Cândido Ferreira em Campinas (SP). Durante uma hora, os pacientes de saúde mental viram jornalistas. Apresentam o programa de rádio "Maluco Beleza" e fazem da sua história uma ferramenta para luta antimanicomial. Essa foi uma das experiências apresentadas no eixo da comunicação para os participantes do 5º Fórum Social Mundial em Porto Alegre (RS).

Camisa-de-força, mata-leão e eletrochoque ficaram para trás, dando espaço para gravador, microfone, entrevistas e muito bom humor. Reginaldo Ferreira, idealizador do projeto, conta que a postura dos pacientes mudou visivelmente após a implementação do programa. Um exemplo disso é Marcos Bonfim, o Marquinhos, portador de deficiência mental. Quando deu entrada no hospital não era capaz de formar uma frase. Hoje, além de conversar, faz grandes imitações como as do apresentador Chacrinha, Galvão Bueno e do rapper Mano Brown.

Exemplos de recuperação não faltam na experiência do hospital paulista. A instituição possui outras dez oficinas de capacitação dos usuários de saúde mental. Nada é obrigatório em Cândido Ribeiro. Os pacientes são livres para escolher entre aulas de culinária, artesanato, gráfica, além de trabalhar com rádio, televisão e jornal.

O projeto "Maluco Beleza" teve início em 1995. Além de trabalhar o preconceito da população local e dar nova cara ao tratamento dos pacientes, o programa de rádio mostra que o "louco também tem voz". Totalmente produzido pelos usuários do hospital, o programa tem como resultado o reconhecimento da cidadania dos pacientes. "A partir do projeto eles conseguem conquistar os direitos humanos de uma forma mais ampliada por meio da comunicação", afirma Reginaldo Moreira.

Luciano Lira ou "o delira", como prefere ser chamado, é um dos exemplos de como um tratamento diferenciado, sem repressões, pode gerar bons resultados. Após três anos de "Maluco Beleza", as crises que o atormentavam desapareceram. Voltou a estudar e pretende cursar jornalismo. "Estamos aqui no Fórum cadastrados como imprensa, mas não somos profissionais. Quem diria, há 20 ou 30 anos, que um dia doentes psiquiátricos teriam direito a voz", diz.

Para Reginaldo Moreira, a reforma psiquiátrica só vai acontecer quando o preconceito das pessoas for vencido. "Não basta acabar com o hospital, com as punições convencionais, tem que acabar com o muro que existe na cabeça das pessoas". Nesse contexto, o trabalho de comunicação na saúde mental presta um serviço importante para a área e mostra que não é só o tratamento clínico que pode recuperar as pessoas.

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