O nome pegou, mas a qualificação está incorreta. O horário político pode ser injusto com as emissoras de rádio e televisão, mal distribuído e maçante, mas não gratuito. É o único recurso de que os políticos dispõem, nos centros urbanos, para atingir a população, talvez muito envolvida com as suas próprias angústias para prestar atenção nas pichações e cartazes que infestam, sobretudo, a periferia e as cidades no interior. Nas grandes metrópoles, portanto, o rádio e a TV são decisivos para os candidatos.
Mas nem assim os políticos parecem estar interessados em aproveitar o tempo que lhes foi concedido para transmitir mensagens realmente importantes e convincentes a ponto de convencer e ajudar o eleitor a tomar sua decisão. Talvez daí a expressão ?gratuito?, que modifica aquele que deveria ser o tempo mais substantivo da nação. Os dois candidatos mais fortes à presidência da República, por exemplo, inauguram as suas respectivas participações com o velho recurso sentimental que parece querer nivelar a audiência pelo mais baixo nível de informação.
Já, entre os candidatos ao governo do Estado de São Paulo as primeiras manifestações foram contundentes, mas nem por isso, mais profundas. Há quem tente seduzir os eleitores com idéias avançadas acerca do comportamento humano e quem julgue que ser uma ?pessoa de bem? é tudo o que se necessita para governar o destino de milhões.
Na área do Legislativo, impera uma nova lengalenga, mas a imprensa, os críticos e a sociedade em geral estão bem mais atentos. Espera-se portanto – e ainda há tempo – para que os candidatos apurem o senso crítico e invistam no precioso horário político o melhor de seus esforços, apresentando propostas concretas de mudanças no estado de coisas que levou as eleições à condição de folclore nacional.
Sylvia Romano é advogada trabalhista, em São Paulo.