Hora e vez da diplomacia

Dois anos depois da promulgação do decreto de nacionalização do setor petrolífero da Bolívia, pelo presidente Evo Morales, que na ocasião ordenou a ocupação por tropas do Exército de propriedades da Petrobras na Província de Santa Cruz da la Sierra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a La Paz, com a finalidade de assinar uma série de convênios com o país vizinho.

Visando eliminar de uma vez por todas o contencioso político-diplomático que colocou ambos os governos em posições próximas do desentendimento total, Lula se dispôs a anunciar o retorno dos investimentos da estatal brasileira de energia na Bolívia – US$ 750 milhões em quatro anos – para a constituição de uma empresa conjunta com a YPFB (a congênere boliviana da Petrobras), para viabilizar a exploração de três jazidas de gás natural localizadas nos campos de San Alberto, San Antonio e Ingres.

O acordo Brasil-Bolívia, assinado ontem, prevê também investimentos na construção de estradas, em projetos de educação e agricultura e no combate ao narcotráfico, além da exploração e produção de petróleo e gás.

Espera-se que os presidentes Lula e Evo Morales consigam passar a borracha sobre um incidente que poderia ter um desfecho indesejado, há sete meses, quando o governo brasileiro esteve a ponto de retirar o atual embaixador Frederico Araújo. O presidente brasileiro está confiante no êxito das negociações com o colega boliviano e, sobretudo, no respeito mútuo aos parâmetros acertados pelos respectivos serviços diplomáticos.

Enquanto isso, no Brasil, segundo informações publicadas no domingo, circula um e-mail contendo críticas à atuação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, formuladas pelo embaixador aposentado Márcio de Oliveira Dias, que já representou o País na Bélgica, Paraguai e Egito. Dias escreveu carta ao chefe do Itamaraty para reclamar do viés petista com que a diplomacia brasileira está sendo conduzida, num flagrante rompimento das tradições históricas da Casa de Rio Branco.

Na missiva em foco, há também críticas pesadas ao secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães, apontado como responsável pelo viés ideológico imposto à política externa, considerada incompatível com os interesses nacionais: ?Nunca houve um esforço dessa maneira para pôr a Casa a serviço de um partido?, afirmou.

A questão é grave e requer pronta intervenção do próprio presidente da República, a quem cabe dar a última palavra sobre os temas candentes da administração.

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