O homem continua com toda a força. Falamos de Antônio Palocci, o médico que Lula escolheu para cuidar das finanças do País. Ex-prefeito de Ribeirão Preto, um dos pólos da chamada ?Califórnia? brasileira, tendo em vista o altíssimo poder aquisitivo lá concentrado, e ex-coordenador da campanha presidencial, Palocci é o principal ministro do governo.
Sabia-se da surda mas acirrada disputa por espaço não apenas no governo, como nas proximidades do presidente, travada por José Dirceu e Palocci. O primeiro caiu em desgraça e deixou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, donde deveria ter saído desde a revelação do escândalo Waldomiro Diniz. O segundo segue lampeiro e bem-sucedido na missão de executar uma política econômica louvada nos maiores centros financeiros do mundo.
A última do ministro da Fazenda, fato que revela quão galvanizada é sua parcela de poder, foi o descarte da proposta de adoção da meta de zerar o déficit nominal do setor público sugerida ao governo pelo deputado federal Delfim Netto (PP-SP). Déficit nominal significa receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros da dívida pública.
O ministro deu claro recado que o governo não tem interesse em assumir a meta do zeramento, e tampouco pretende ceder às pressões oriundas do empresariado em termos da redução dos juros básicos praticados hoje. Aliás, a queda dos juros é o ponto forte da sugestão de Delfim.
A estratégia preferida por Antônio Palocci, a quem decerto não convém ampliar o fosso que separa o governo dos setores produtivos, foi respaldar a idéia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), quanto à efetiva redução dos gastos governamentais pelo período de dez anos.
Como a política do superávit primário tem dado certo, na estimativa do próprio ministro, não há motivos para substituí-la por nenhum outro mecanismo. O governo promete, no entanto, desencadear o que está chamando de ?choque de gestão?, ou seja, a prática de critérios rígidos na contenção da despesa pública. Em outras palavras: só se gasta o que se arrecada.
Palocci terá de gastar – isso sim – muita saliva para convencer amplos setores da sociedade que o controle dos gastos e o equilíbrio fiscal resultantes do corte de recursos dos programas sociais, em futuro breve, trarão os benefícios tão aguardados por todos.